segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Inquietação.

Como nos livrar do sentimento de culpa? Como arrancar do peito a angústia do erro? Ter a consciência de um ato errôneo torna-o mais errado? Como evitar este mal inevitável?

Não posso ser omisso, não quero e não tenho este direito. Não pretendo ter o fim igual aos dos meus heróis e, tampouco, aliar-me aos meus inimigos. Prefiro a morte. A morte é algo que não temo mais. Só temo a dor que ela possa me proporcionar. Só.

Não busco respostas obvias. Antes um soco do que um afago. Afinal, não o mereço. Essa inquietação me deixa a beira da loucura. Porém, nunca tive o conhecimento da linha da sanidade.

Não me venha com perguntas. O que eu quero são respostas. Como me livrarei de você? Não, não digas nada, pois, já suponho o que dirás.

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Ligação local.

- Alô, Rita?


- Quem é?


- É a Amanda, Querida. Tava com vergonha de te ligar, mas, tinha que lhe falar que ontem foi maravilhoso. Percebi que era sua primeira vez também, mas, deixei as coisas acontecerem. No inicio foi estranho, eu estava nervosa, nunca me imaginei com outra mulher. Mas, por sermos muito amigas, até que foi divertido, né? Vamos repetir essa brincadeira quando?


- Que bom que você gostou, mas, aqui não tem nenhuma Rita.


- Desculpa, foi engano.

Me vê o de sempre, no capricho.

Em um restaurante, Beto e Ricardo discutiam sobre suas preferências. Comer arroz com feijão ou feijão com arroz?

- Eu prefiro Arroz com feijão. É bem melhor colocar o feijão por cima, dá pra misturar melhor, a comida fica mais molhadinha. Disse Beto.


- Você me faz rir. Se espalhar o feijão no fundo do prato e colocar o arroz por cima, a mistura fica bem mais fácil e muito mais saborosa, vai por mim. Responde Ricardo.


- Tá bom, chega de papo furado. O garçom está esperando os nossos pedidos, o que vai querer?


- Oi, me vê o de sempre. Aquele strogonoff, ok?


- O meu também é o de sempre. Uma lasanha, no capricho.

Indecisão.

Era tarde, elas conversavam há horas. Admirando-se e transmitindo, com fortes abraços, o calor do corpo de uma para outra. As mãos suavam frio e a insegurança tomava conta de ambas:


- Sempre achei lindo os seus olhos. Desde a primeira vez que os vi, me passa uma paz. Sua pele também é bela e tem uma suavidade sem igual.


- Seu cabelo é tão macio e bem perfumado, sua boca é bem contornada e, quando você a umedece com a língua depois de falar, me deixa com certa inveja de não ter nascido com uma boca igual a tua.


- Você diz isso só pra me deixar feliz.


- Você é linda, alta, tem um jeito encantador. Quando me acaricia com as pontas dos dedos me deixa nas nuvens.


- Eu gosto do seu beijo, do jeito que fala comigo e da forma que olha nos meus olhos.


- O mundo pode me tirar tudo, mas, não pode tirar você de mim, nunca.


- Fique tranqüila, pois, sempre estarei por perto, sempre. Já é tarde agora vá dormir que amanhã é um grande dia. Quando o juiz assinar aqueles papéis, serei a mulher mais feliz do mundo.


- Eu também, mãe. Boa noite.Te amo.

terça-feira, 18 de setembro de 2007

A saideira.

Ao fundo, ouvíamos os improvisos virtuosos do piano de Bill Evans, misturado aos murmurinhos dos intelectualóides que freqüentam o bar. Eu, com vários uísques virados, esperava a conta juntamente com meu irmão, Otavio:

- Meu querido! – Gritou meu irmão – pode, por obséquio, agilizar esta conta?

- Só cinco minutinhos, senhor! – Respondera o garçom.

Otavio olhou as horas em seu relógio, a fim de marcar os minutos pedidos pelo garçom.

Continuávamos nosso papo sobre minha separação, falava ao meu irmão que Gabriela quisera o divórcio. Ele me aconselhou a providenciar rapidamente este processo. Porém, apesar de ser meu irmão, tenho que levar em consideração sua situação nada estável com Ruth, refletir muito bem sobre os seus conselhos.

Pronto. Terminei meu ultimo drinque e Otavio também, só faltava acertarmos a conta para irmos embora.

Meu irmão se levantou e chamou o garçom novamente, que lhe acenou pedindo para esperar um pouco mais. Otavio apanhou seu chapéu e seu paletó e começou a caminhar em direção da saída. Eu, sem entender o gesto do meu irmão, deixei o dinheiro na mesa e fui atrás dele:

- Você está maluco, Otavio?

- Por quê? – Respondera ele.

- Como assim? O Garçom pede pra você esperar e você vai embora sem pagar?

- Dei os minutos que ele me pediu. Não me neguei em pagar, ele que não fez questão de receber. Vai, vamos embora. Já estou bêbado, era este meu objetivo. Vamos!

Filosofia de botequim - Parte II – O som do silêncio.

Também dá pra se ouvir o silêncio. Como distinguir o som e o silêncio?

Da mesma forma que o preto é a ausência de cor e mesmo assim conseguimos vê-lo, o silêncio é a ausência do som.

Podemos ouvir diversas coisas no silêncio. Ouvimos a batida do coração, os ruídos da noite, o assoviar do vento, etecetera.

E, antes de todo grande barulho, há um momento de silêncio absoluto. Antes de uma bomba explodir, antes de um gemido de orgasmo, antes do bater da batuta de um maestro, antes do choro de uma criança ao nascer.

Também existe o instante de silêncio que encerra um grande barulho. Depois do encerramento de um espetáculo, a platéia fica por um pequeno instante em silêncio total de admiração e, em seguida, dispara seus aplausos. Depois do soar do sino, os fiéis ficam extremamente calados e, só a seguir, dizem amém.

Antes de você discordar, ou até mesmo, concordar com o que acabou de ler, ficará em silêncio por algum instante também.

sábado, 15 de setembro de 2007

Extraordinariamente: Nota de existência.

- Vi que era indispensável mencionar a idéia que fez passar a existir este blog.

O blog MEIO PAU retrata a banalidade do cotidiano, torna todas aquelas crises existenciais em humor, acredita que a monotonia da rotina permite transformar a vida em algo mais insano e criativo, dando ritmo ao dia-a-dia.

O blog MEIO PAU surgiu da pretensão de revelar um fluxo peculiar do pensamento crítico, contra-cultura, do humor, da reflexão e da forma de sentir.

Traduzindo em palavras coisas corriqueiras, transformando banalidade em estrofes e vulgaridade em música aos ouvidos.Utiliza como ferramenta um humor crítico, guerrilha poética, narrativas do cotidiano, resistência cultural, crônicas sarcásticas, textos insanos e etecetera.

Se você gostou, divulgue. Não gostou? Difame.

LEIA!

Pois, ler não engorda e faz crescer.

terça-feira, 11 de setembro de 2007

O canto do mendigo.

O meu cobertor é um jornal rasgado.

Meu colchão é só um papelão furado.

Vivo por aí pedindo um trocado.

Sem eira nem beira, com meu cão do lado.


Ainda assim, vivo sendo julgado.

Tudo que eu queria é ser um ser alado.

Voar por aí não sendo reparado.

E sempre cantando, com meu cão do lado.

quarta-feira, 5 de setembro de 2007

A cegueira.

O ser humano carrega consigo a pior doença de sua espécie. A cegueira.

A cegueira da alma, a cegueira intelectual, a cegueira das bibliotecas, dos executivos, dos políticos, dos letrados.

Cegueira qual, não encontramos no povo.

Na Dona Maria, que depois que seu marido morreu de gota, teve que tirar forças e alimento da terra, para dar aos seus filhos o que comer.

E seu João e seu José, que saíram com suas famílias atrás de melhoria e só encontraram ilusão.

Mas, em todos eles, não encontramos essa tal cegueira que deixa todos vendados para as coisas simples da vida.

Que cega o peito, os olhos, o respeito pelo outro.

Arranca da cara toda essa farsa, tira a máscara da intelectualidade e busque na simplicidade a verdade para viver.

Aprenda com a Dona Maria, com seu José e seu João, que a vida é sofrida para quem não vive no que acredita. Para quem busca a solidão.

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Nada.

Reescrevo o que já li, pois, sei que tudo já foi dito.

Acrescento alguns pontos em cada conto que edito.

Coloco sinônimos e outros adjetivos em tudo que escrevo, em tudo que recito.

Concordo que tudo já foi escrito, mas, se eu não escrevi, tenho que dar minha versão no recinto.

Então, se eu não escrevi, não sinto. Se não senti, não foi escrito e tenho dito.

sábado, 1 de setembro de 2007

Ziguezagueando.

Ela veio sem graça e me disse: “qual sua graça?” e eu fui me apresentando.

Quando veio com graça, eu pensei “o que se passa?” e fui me aproximando.


Logo dei um abraço, me senti no espaço, ziguezagueando.

Desconcertei seu passo, deixou cair o laço e foi se apaixonando.


É bem assim que acontece quando a gente esquece tudo que é ruim.

Há quem diz que amar é faca de dois gumes, pode ser, não para mim.