quarta-feira, 19 de março de 2008

Lamúrias de burguesa – Parte I

Introdução

Certo dia, entrei no quarto de Mariana e encontrei um diário em cima de sua cama. Algumas folhas rasgadas e outras ilegíveis. Antes que ela me visse, retirei algumas páginas, com um pouco de seus segredos anotados ali e pulei a janela.

Mariana é uma menina mimada e gosta que tudo seja feito a tua vontade. Única filha de um casal em crise. Vive no mundo da lua e não presta atenção nas coisas ao seu redor. Fria. Gosta de falar, mas não gosta de ouvir. Aconselha a todos, porém nunca segue os conselhos de ninguém.

Confesso, eu tinha uma idéia formada sobre ela, entretanto tudo caiu por terra quando li essas páginas que roubei de seu diário.

Ela sente medo, como toda menina de vinte e poucos anos, mas seus medos vão além. Cria um universo de lamentações em seus pensamentos. Sente por acreditar que as pessoas que marcaram sua a vida, não a levarão em suas memórias. “Sentir medo é normal, mariana”. Esta frase está reescrita inúmeras vezes nas páginas de seu diário. Uma espécie de conselho pra si mesma.

Um trecho que me deixou perplexo, porém me tirou boas risadas, foi este que transcrevo a seguir:

“Gustavo já estava me esperando. Entrei sem bater. Era rotina! Falou que queria me comer bem ali e gravar tudo para assistirmos depois. Adorei a idéia! (...).
(...) Agora toda vez que nos vemos, nos comemos loucamente e, após assistimos nosso vídeo pornô-sensual, repetimos a dose”.

Mariana é uma menina estranha, tem poucos amigos e gosta de viver a mira dos olhares dos curiosos. Gostaria de ler seu diário por completo e saber mais sobre a sua vida.

As páginas que tenho, penso em fazer um filme, porém com outros nomes, com outras situações. Não sei. O que sei, é que esta história não acabará por aqui. Tenho algumas páginas do diário dela e, de alguma forma, compartilharei seus delírios com quem se interessar. Como eu me interessei.

sexta-feira, 7 de março de 2008

Serenata.

A luz da lua dançava sobre as águas plácidas, no ritmo de uma velha canção.

O negro oceano se tornou claro ao som de um violão desafinado e de uma voz levemente rouca.

Sobre o brilho do mar do atlântico e debaixo dos olhos apaixonados de um jovem casal, os primeiros raios solares apareceram.

Ainda me lembro dos olhos mareados dela, quando ouvira os acordes e as frases soltas que falavam de amor.

Lembro-me perfeitamente das caras e bocas dele, que empolgado com a bela paisagem – tanto da linda imagem dela, quanto da vista daquela imensa baía – inventava melodias e cantava poesia ao som do mar e a luz do céu profundo.

Um mergulho em águas frias. Fotografias para registrar.

Esse momento ficará na minha retina. Permanecerá na memória de todos aqueles que passaram pela orla. Será tatuagem no peito deste jovem casal.

Estará sempre presente nas histórias contadas a beira mar, que teve como testemunhas principais, o céu, o sol, os astros e o luar.

quinta-feira, 6 de março de 2008

Gavetas e gravatas.

Tira a gravata.

Feche a gaveta.

Corra para a cama.

Ela lhe espera.

Feche os olhos.

Beija-a na boca.

Tira-lhe o sono.

Chama-lhe de dono.

...

Toca o telefone.

A bolsa se rompeu.

Feche a gaveta.

Afrouxe a gravata.

Ela concebeu.

...

Os primeiros passos.

As primeiras palavras.

Só repetirá o que lhe for falado.

Este é o ser humano.

Se não for assim, ficará calado.

...

Vocês envelheceram.

Eles te esqueceram.

Agora são três.

Vestem-se diferentes.

Cantam em inglês.

Sua esposa lhe espera na cama.

Ela dorme logo.

Você desencana.

...

A vida se aproxima do fim.

Encostaram a gaveta.

Apertaram a gravata.

Vejo-lhe de olhos fechados.

Flores e choros por todos os lados.

...

Você se tornou uma lembrança.

Lágrimas que escorrem pelas gravatas.

Fotografias no fundo de uma velha gaveta.

Dicotômicos.

Ouço tal conversa e considero bastante atraente. Assuntos interessantes. Papo inteligente.

Certo apego as normas cultas. Diversas maneiras de ver o mundo.

Fala-se sobre música, arte, cinema, enfim. Fala-se sobre você. Fala-se sobre mim.

Eles são engajados. Passam noites em claro. Roubam livros. Quebram vidraças. Visões românticas e apelo ao belo. Querem a paz através da desgraça.

Estão à frente da gente. Em um tempo interno diferente. É sobre isto que eles falam. Mas, não é isso que eles sentem. Não acreditam em Deus. Eles mentem.

Não toleram a fome. Pouco menos as guerras. Pintam a cara e se abraçam. Tudo isso com seus cérebros bem alimentados, na proteção de suas câmeras de segurança e refrigerados pelo ar condicionado do apartamento dos pais.

Fim de semana na casa-de-campo. Uma reunião regada a bebidas caras e conversas fantasiosas. Brigam, falam alto e fazem as pazes. Eles realmente não sabem o que fazem.

Eles são católicos. Eles não sabem rezar. Eles são caóticos. Eles não sabem amar. Contraditórios e vivem à quem. Eles são "o mal". Eles só querem "o bem".