sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

O homem e seu cão.

Todo dia é a mesma coisa. Lá está o homem e seu cão.

Passo por ele, disfarçando. Não chamo atenção. Só observo e mais nada.

Comento com minha namorada, depois de um cutucão:
- “Olha lá, mais uma vez! O homem e seu cão”.

Não seria tão, digamos, espantoso se seus passeios diários fossem pela manhã. Mas, meia-noite-e-meia? Oras, o que motiva este homem à levar seu cão para passear este horário? Não é asneira!

Imagino este homem, belo exemplo da mais-valia, querendo dormir para trabalhar no outro dia. Seu cão, tirando o verniz da porta, com as patas tortas...

Pouco importa! Lá está o homem disposto - ou não - a levá-lo para mais um passeio noturno. Cão astuto e inoportuno.

Ele tem uma aparência sofrida, orelhas baixas e caídas. Acho que suportara muitas coisas na vida - estou falando do homem e não do cão.

Creio que, todos os domingos, ele deve jogar bola com seus amigos. Nunca foi à escola. Vai à missa. Não toma óstia, não fora batizado. Considera-se azarado, pois seu time de coração não está classificado para a grande decisão.

Confesso, tenho pena desse homem. Este cão não tem o estereótipo de melhor amigo. Acordar seu dono para sair à noite? Algo lhe consome.

Seria um julgamento precipitado? Pode ser que ele fique o dia todo amargurado. Na corrente, sem comida, água quente... Observando todos os lados. Vivendo a mesma rotina por muitos e muitos anos. Calado.

O que ele mais espera, é a chegada das noites quentes. Passear com aquele que ele mais adora. Que mais lhe dá carinho e lhe consola. Sempre agitado e cheio de disposição – mais uma vez, falo do homem e não do cão.