segunda-feira, 12 de março de 2012

O bastão do temor

A vitoria causa medo, seja no individuo único ou em uma grande equipe com o mesmo objetivo. O surto do medo opera de forma silenciosa, explode como dinamite, quase que inevitável, em um momento exclusivo, no ápice, na hora em que a confiança cria uma pequena fenda. E, é nessa brecha que o medo se encaixa e ganha força, ali naquele pequeno espaço o medo cresce e se alimenta, tornando a luta intima e particular. Por exemplo, um corredor que está na liderança, seja de atletismo, bicicleta, moto ou piloto de automobilismo, passa a corrida inteira sem que o medo lhe atinja. Preocupa-se e foca em seu rendimento, busca prever alguns possíveis fatos repentinos, corrigindo detalhes e esperando a hora do triunfo. Só que ele se depara com a ultima volta e, é neste momento, nessa ultima curva, que um alarme dentro de sua mente ecoa. Basta visualizar a linha de chegada para titubear. Agora a luta não dura horas e não é mais contra outros competidores. A partir desse momento ele está lutando para não olhar pra trás, temendo alguma ultrapassagem, colocando em duvida sua capacidade, seu foco oscila, a boca seca e as mãos transpiram. Até cruzar a linha de chegada, seu companheiro maior é o “se”. Só que, quando a faixa bate no peito ou quando avista a bandeira flamulando no alto, ele desaba. Em frações de segundo o medo vira gloria, o esforço se torna mérito e sua honra é lavada de suor, sangue e vitoria. Quando pára e observa seu feito, como se estivesse fora dele, enxerga que só na ultima volta se tornou um corredor. Só quando colocou em duvida sua capacidade percebeu que, para ser um vencedor, não deveria subestimar os fatores externos, tampouco os internos e que sua consagração não era à base do esmo. E, só quando temeu a derrota, pode preparar seu paladar para deliciar-se com a vitoria, se tornando merecedor de si mesmo.