Do pau-de-arara a ilusão da capital. Trabalhou em firma boa, mas, após a grande greve, um canteiro de obras foi a solução. Sem estudos, agora mora na rua da amargura, s/n. Junta lata, faz carreto, sem careta, junta tudo, só pra beber, comer algumas sobras e fumar igual Caipora.
Um dia desses, uma madame quis fazer grande gesto, lhe deu um troco gordo. Logo pensou numa marmitex caprichada e numa garrafa de cachaça: “Brigadão, senhora! Hoje peço um prato executivo, só assim pra me sentir doutor”. Ela achou graça, sorriu um sorriso amarelo-dourado. Ele, educadamente, retribuiu com seu sorriso amarelo-apodrecido.
Partiu até o velho restaurante por quilo, pediu pra viagem e, bem humorado, brincou: “Por favor! Marmita gigante e branquinha da boa. Será a segunda melhor viagem de minha vida... Pois, da primeira não abro mão, será meu regresso pro sertão”!
Pegou seu pedido e foi pra escadaria, longe da grande maioria, se preparou para o esperado desjejum. Mas, como bom temente a Deus, antes da primeira colherada, colocou a comida no colo e ergueu suas mãos, dizendo: “Brigado, Deus nosso-senhô! Sei que essa marmita dá pra dois, porém, minha fome é do tamanho do meu desapontamento e, mesmo sem cabimento, te agradeço, mas, não te ofereço. Amém”!