sábado, 30 de maio de 2009

Depois do fim - Primeiro ato

Dejavú

Contarei o que me lembro dessa história. Ouvi isso em uma viagem que fiz, faz muito tempo. A riqueza de alguns detalhes, é fruto de muita atenção, de fatos inventados e de algumas perguntas, pois, fiquei curioso com tudo que ouvi e, depois de algumas cervejas, todos são amigos e falam demais. Enfim, essa história é de um rapaz muito trabalhador. Definitivamente, não existe alguém mais atarefado que Gilberto. Carregamentos de malotes. Entregas relâmpagos. Documentações importantes. Tudo isso e um pouco mais, são os ingredientes presentes na rotina de trabalho deste jovem rapaz. Mas, não se preocupe. Ao que parece, ele adora o que faz.

Tem uma vida humilde. É casado. Dois cachorros e um aquário. Está entusiasmado, pois, logo será papai. Trabalha em turnos dobrados para oferecer uma vida confortável a sua amada mulher e seu primeiro filho, que está por vir. Seu chefe, um Srº judeu, admira sua determinação. Oferece bonificações, horas-extras e outras condições.

Em uma sexta-feira como todas as outras, Gilberto chega cedo à empresa, para carregar sua van e sair para as entregas rotineiras. Como de costume, coloca os pacotes com maior valor nos fundos do veiculo, embrulhados em um plástico e presos com um forte elástico. Em seguida, confere o romaneio e lista os locais do qual irá durante ao longo do dia. Direciona-se até a sala do Srº Fábio, seu encarregado, para solicitar a autorização de sua partida e apanhar as notas para o posto de gasolina conveniado com a empresa. Ele espera, pois, o Srº Fábio está no telefone, confirmando uma nova venda.

Enquanto aguarda, Gilberto admira algumas fotografias de um calendário, fixado à parede central. Imagens de diversos lugares, belas paisagens e monumentos históricos. Por um instante, Gilberto tem a impressão que já esteve em algum desses lugares, reconhece algumas fotos e têm lampejos de lembranças, pessoas que não conheceu, fatos que jamais presenciou, momentos que nunca existiu e uma vida que nunca viveu. Ele acha estranho, mas não se importa. Afinal, dejavú é algo comum, sempre temos, uma hora ou outra.

Pois bem... Ao desligar o telefone, o encarregado de Gilberto se levanta da cadeira e o cumprimenta, com um sorriso estampado em seu rosto, lhe deseja um bom dia, perguntando de sua vida e das expectativas da chegada do primeiro filho. Aparentemente feliz com a preocupação do chefe, ele responde que está ansioso e não vê à hora de realizar o sonho de ser pai. A conversa se estende por mais um ou dois minutos, porém Gilberto interrompe o assunto para ir às entregas da escala. Fez bem, pois motoristas ganham por hora e não por empreitada.

Enfim... O Srº Fábio verifica as anotações, referente ao telefonema anterior. Abri a gaveta de sua mesa e retira alguns papéis, olha para Gilberto e diz que ele não irá fazer as entregas que estavam previstas. Pois, acabou de receber um contato e acabara de fechar uma venda de tamanha importância e, extremamente, urgente. Por confiar no rapaz e saber de sua agilidade neste processo, gostaria que Gilberto fosse lá. Com ar de prontidão, porém, boquiaberto, Gilberto balança a cabeça positivamente e pergunta que horas irá partir. Entregando alguns documentos para Gilberto, Srº Fábio lhe informa que se trata de uma longa viagem e que ele partirá agora mesmo. Mandará carregar a van com a nova encomenda. Enquanto isso, pediu a Gilberto que fosse para casa apanhar uma mala. A entrega é em Contagem, Minas Gerais. O rapaz ficaria alguns dias fora.