segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Silêncio.

Lembranças de um lugar estranho.
Tento correr, mas não avanço um passo.
Não tenho forças, não meço o tamanho.
Pessoas passam por mim, porém nada faço.

O vento bate na cara, o sol arde na pele.
Tudo parece real, como nos filmes passados.
Não tenho o controle de mim, tudo me fere.
O assassino me alcança, vejo panos rasgados.

No despertar excitado, não lembro o que passou.
Trechos e pedaços sem sentidos. Tudo está recalcado.
Sobraram-me os conflitos, a subversão se formou.
O inconsciente tornou-se vivo e nesta estrada fico calado.

Urbânia.

Não gosto de viver a espreita. Caminho na multidão.
Gosto do cheiro do combustível no ar, das buzinas dos carros e do vai-e-vem das pessoas.
Um jornal pela manhã.
Falar sobre futebol.
Almoçar assistindo televisão.
Uma cerveja no final da tarde.
Passar o dia com um fone-de-ouvido.
Sem devaneios.

Essas emoções têm efeitos duradouros.
Emoções estão ligadas ao valor que damos as diversas situações.
As situações do dia-a-dia me motivam a querer mais.
A poluição cheira a flor.
As buzinas são harmoniosas, como numa sinfonia.
O transitar das pessoas remetem passos sincronizados de uma companhia de balé.
Cada estresse vale à pena.

Qual a emoção mais coerente para este estilo de vida?
Saber que sou parte integrante deste grande organismo, faz-me transbordar de um incomparável orgulho.
Entendo e encaro a vida mais contemporânea do que arcaica.

Trombetas em sol.

Desde pequeno, ouço dizer que o mundo acabará. Eu sinceramente, queria presenciar.
Será que isto é um sinal? Será que o fim dos tempos é assim, tão mal?
Afinal, será que o homem está voltando ao ser um animal irracional?
Deus é testemunha e eu também quero ser. Isso é natural?

Assim, só.

Primavera. Inverno. Outono...
... Outro ano já se passou.
Calor do verão. Os dias se estendem...
...Vocês não entendem. Nunca verão.
Não esquento. Estou calmo.
O que é certo? Não estou salvo.
Gosto de ficar assim. Só assim.
Talvez não seja certo. Vou ficar só.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Filosofia de botequim - Parte IV – Negue-se.

Encarar as situações do cotidiano entendendo o não-sentido das coisas, de forma apática, não institui que você é omisso. Pelo contrário, trata-se mais de uma negação, de uma forma atuante de mostrar-se indignado com tal. Uma negação remete a uma afirmação e, assim sendo, a indiferença afirma um significado paradoxal.

A lógica do absurdo de viver o não e negar algumas circunstâncias da vida é uma dialética própria, dentro de uma realidade única, que provoca e controverte a realidade que entendemos como a normal, aceita por todos. O tal senso comum.

Parece complexo a primeiro momento, porém a própria filosofia já diz. Negar sua própria existência faz compreender o porquê que você existe e o porquê de todas as coisas.

É como votar nulo, você não precisa votar em alguém para exercer seu direito como cidadão, tampouco votar no menos pior. Ou então, achar que eleição é uma corrida-de-cavalos e não votar no candidato que você se identifica por achar que ele não irá ganhar.

Encare seu não como uma opinião afirmativa. Negue-se. Viver e não ter a vergonha de se negar. Sonhar a beleza de ser um eterno indócil.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Luz. Câmera. Ação.

Um dia útil se fez inútil. Plena semana, em qualquer bar da rua augusta, uma junkiebox tocava Morrissey, R.E.M, AbbA, The Doors, Tim Maia e Nelson Gonçalves. Um filme do Kubrick passara na T.V. dando ritmo ao ambiente. Desbunde. Pessoas indo aos seus trabalhos e nós lá, bebendo e falando sobre tudo e todos. Homens também fofocam.

Ocasiões que nos fazem ver como é importante ter amigos de verdade e mais ainda, como é importante a cerveja estar sempre gelada. O papo fica quente quando a cerveja gela a garganta. As risadas pegam fogo no ar e o calor da amizade aumenta.

Tudo está em seu devido lugar, menos nós. Ou lá seria nosso verdadeiro lugar? A moldara desta pintura é velha, as histórias se renovam e a bebida não esquenta. É inútil prever o que virá depois. Não espere o óbvio. Na bíblia que escrevi, há um versículo que diz: "Nenhuma loucura há de ser em vão". Por uma vida mais non-sense, este é o meu lema. Por que não?

Definitivamente, a noite não foi feita pra dormir e parafraseando Chico, lhe dou um ótimo conselho: É inútil dormir achando que a dor passará. Espere sentado ou você se cansará e está mais que comprovado, quem espera nunca alcançará. Por isso, vá!

Vocês precisam conhecer meus amigos. Estou certo que vocês precisam. Como em um filme antigo, me queimo brincando com fogo. Sei que vim de longe, não me importo. Pois, além de conhecer meu lugar de origem tenho a oportunidade de conhecer o seu universo. Bebo a felicidade e sobre a sinceridade me esqueço do amanhã. Um brinde!

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Coisas do verão.

Pode deixar tudo como está, não precise arrumar nada. Somente estique o lençol e feche as janelas.

Saia sem fazer barulho. Desligue tudo.

Confira se as luzes do corredor estão apagadas. Tranque as portas.

Veja como o dia está lindo. Hoje não irá chover. Talvez, uma leve chuva de fim-de-tarde.

Lembrei-me daquela viagem, das brincadeiras e de todas aquelas pessoas que eu nunca mais verei. Outrora era diferente, era excitante.

A pele ardia. Este ardor provém do sol e do prazer de ficar exposto a ele.

Nossa! Como eu era bem quisto e bastante requisitado.

Parece que a gente vive apenas as coisas que passarão, só pra termos a dor de saber que não voltarão mais.

As lembranças doem.

Tempestade vista da janela. Vontade de correr lá fora.

Suas roupas não parecem às mesmas quando estão no corpo de outra pessoa. Nem os seus sapatos. Nada parece igual.

Hoje, um tanto mais casto, vejo-me distante de tudo e sinto que às vezes o sol não queima mais.

Olhando para a varanda, dentro dessa saleta, acredito que o tempo me mostrou a vida, me apresentou a graça e a desgraça de envelhecer, me fez crer no amanhã e esperar meu repouso em plena calmaria.

sábado, 5 de janeiro de 2008

Primeira vez.

Se por um acaso alguém perguntar por onde ando, diz que estou sem destino, andando por onde o vento vai, seguindo o que o instinto faz, vivendo por um instante, correndo sem olhar para trás.

Se alguém por um acaso perguntar o que ando fazendo, diz que estou realizando sonhos. Me libertei de velhas correntes. Troquei de pele, de humor, me desfiz de antigas idéias e de sapatos apertados. Sempre sei o que faço. Não darei motivos. Mas, se precisar saio no braço. Estou buscando paz e pela primeira vez, vivendo mais.

Disritmia.

Passo firme. Voz rouca. Fico tonto. Mexo os dedos. Tic-tac do relógio me hipnotiza. Os minutos me controlam. Estado de choque. Não há flores no jardim. Vento forte. A riqueza dos detalhes estão em segundo plano. A vela se apaga. Nado contra a maré. Nada de sair do lugar. Uma voz me chama. Um sopro me guia.

Lembranças de um passado recente. Quarto escuro. Cheiro azedo. Silhueta de alguém. Uma luz no vão da porta. Orações são em vão. O grito preso na garganta se liberta. Agonia.
Volto no tempo com a quebra da linearidade. Disritmia. Ouço uma canção. Fala-se de esperança.

Trago no peito a herança da solidão. Trago na alma o lamento e a dor. O desespero e os ranços da mente me deixam abaixo da linha da consciência. A tinta seca. A caneta falha. A revolta cresce. A força padece. Nada não valha.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

Ao cair da noite.

Com ela, pequenas coisas parecem especiais. A vida se apresenta da forma que realmente é. Os atrasos são perdoados, as surpresas são gratas, o frio não arde na pele e a espera nunca é uma tortura. Eu sempre procuro. Eu sempre esqueço. Eu sempre conheço mais. Eu sempre imagino mais. Diferente? Sim. Indiferente? Jamais.

Ela é obscura e reveladora. Céu límpido, brilhante, nebuloso, tenebroso e tenso. Ela é minha fuga estrelada ou chuvosa. Para assistir televisão, pra namorar, pra dormir, sair pra dançar, pra criar, usar a imaginação.

Ela é uma garota, uma bela atriz, um velho ou um moço. Ainda é cheia de manias infantis. Mimada, gosta de tudo ao seu modo. Muda seu humor rapidamente quando as coisas não saem como planejou. Porém, dificilmente as coisas que planeja não saem como imaginou.

É com ela que procuro entender, de certa forma, o porquê dos acontecimentos, dos fatos que me cercam, mesmo que não me agrade. Só por ela que tento aprender com as experiências que a vida propõe. Na sua presença, me torno um moleque, faço graça, rasgo os lixos, pixo os muros, escrevo a noite, leio livros, corro nú por aí. Amo de verdade. Quando estou com ela, nunca fujo de uma briga. Meus olhos refletem meus amores, meus desejos e as luzes dos postes.

Maquiavélica, sabe esperar a hora certa. Quase uma heroína. Lágrimas e sorrisos. Segredos jamais revelados. Sentimentos diversos a compõe. Certas horas insegura e confusa. Poucos a conhecem. Todos querem um pouco dela. Os que a rodeiam admiram-na ou invejam-na. Com ela, uma simples viagem se torna inesquecível e única. Seu universo é enigmático.

Maravilhosa, tem força, é bela e verdadeira. Nunca encontrei alguém que enxergasse tanta coisa boa em tudo que está em sua volta, com bom humor e de forma tão positiva. Ao mesmo tempo em que está disposta a aventuras, também se faz presente nas horas tranqüilas. Com ela me sinto mais vivo, sinto que a vida é uma música e que eu posso ditar o ritmo.

Esta é a madrugada, linda e surpreendente.

Pedido de réveillon

Todos os pedidos de réveillon deveriam ser simplificados, nada de carro do ano ou uma casa no litoral, um emprego melhor ou uma viagem internacional. Desejo um novo começo, um ano realmente novo, para que a vida seja nova e não só a folhinha de calendário. Deixando para trás as coisas velhas, ultrapassadas, que não servem pra nada.

Que tenhamos tempo pra acordar tarde, beijar quem amamos, andar de bicicleta, caminhar, ler mais livros, tomar mais porres, enfim, fazer o que gostamos e/ou temos vontade de fazer de forma mais intensa e mais verdadeira.

Que comecemos um novo regime e mesmo que não consigamos vestir aquele jeans, que compremos um maior. Que possamos nos encontrar mais vezes com os amigos, com os entes queridos. Mais ocasiões para jogarmos conversa fora. Para que busquemos vencer nossos medos, preconceitos, lutarmos pelo que acreditamos. Que almejamos mais, sempre mais, sem limites e sem receios.

Para tudo isso acontecer, devemos encarar o novo. Desejarmos a mudança e buscarmos mais cumplicidade e harmonia em nossas vidas. Aceitando as diferenças, acreditando em nossos sonhos, buscando a felicidade e mais brandura para que nossa vida seja cada vez melhor.

Dê mais socos e tome mais tapas, grite mais alto, levante. Pulemos as sete ondas da mesmice, deixando para trás a falta de vontade de viver, espumas, mau humor e carência de compaixão. Viva com mais paixão.

Por um ano novo mais insano, mais intenso, cheio de histórias e contemplado de lembranças para o próximo ano. Quando este ano novo se tornar velho, que seja sábio, que nos ensine, pois velhice sem sabedoria é tempo perdido.

Que todos os anos novos sejam repletos de desejos, de votos e de recomeços. Que este ciclo se renove repleto de vontades, loucuras e realizações. Pois, quando a gente menos espera, tudo recomeça, tudo se renova, a vida flui naturalmente e a banda não pára de passar.