quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Meu Lado da Cama

Recém casados, Wagner e Beth entraram em um grande dilema. Sequer haviam imaginado algo do tipo: Escolher o lado da cama! Lógico, eles já haviam dormido juntos. Desde a segunda viagem que fizeram. Wagner e Beth já dividiam o mesmo cantinho, seja numa barraca de camping ou colchonetes em viagens com amigos (disse segunda viagem, pois, a primeira estrada foi em uma caravana na fase "zen" de Beth, não puderam dormir juntos. Wagner embarcou numa grande roubada - pelo menos pra ele - tendo que segurar seu temperamento inquieto e entrar na onda do “Ooouunnn” de Beth. Cada qual no seu lado, sem poder aproveitar a linda e inspiradora vista paradisíaca do vilarejo). Mas, agora é bem diferente, a história é outra, são outros quinhentos.

Como disse Beth: “Essa nossa escolha precisa ser muito, mas, muito bem pensada! Passaremos o resto de nossas vidas desse ou daquele lado...". Se pensarmos bem, Beth tem razão. Porém, não é isso que Wagner acha. Ele acredita que o lado pode ser mudado a qualquer hora. Bem, a partir de então, começaram a pensar em possíveis soluções: “Nessa primeira semana, dormiremos num esquema de revezamento, dia sim, dia não"! Disse Beth.
Essa tentativa teve êxito nas primeiras horas da noite, pois, ambos se sentiam incomodados em saber que aquilo era algo provisório. Pareciam que, de forma inconsciente, estavam com medo de se apegar ao lado atual e o outro, de repente, querer trocar. Mas, esqueciam que era, justamente, esse o intuito, se A-PE-GAR. Assim, buscaram sem cessar, novas formas de resolver esta questão.

Entre trocas de travesseiros, viradas de colchões, mudanças no leiaute do quarto, Beth teve um insight: “Que tal comprarmos um beliche!? Explanou, com a mesma cara que fez Cabral, quando descobriu que o novo era velho.
Wagner, é claro, achou um absurdo, não concordou com tal proposta e chegou a abrir um uísque, para ajudar engolir tamanha sugestão. Ela justificou, dizendo que ambos precisavam radicalizar, pois, há dias que procuravam o lado ideal da cama e nada de achar: “A proposta é uma pausa ao desgaste”! Ela disse. (Na minha opinião – que Wagner e Beth não me ouça – essa ideia era uma forma desesperada de emanar carência. Assim, os dois entenderiam de forma involuntária que o lado pouco importa, pois, o que vale não é “O” lado e sim “AO” lado. Mas, como diz meu velho bordão: “Em briga de cão e gato, não se atira o sapato”...).

Com muito custo e algumas doses, Wagner concordou com o monstro chamado beliche. Beth, antes que ele repensasse de sua louca decisão em concordar com ela, apanhou a chave do carro e correu para uma loja de moveis. Nessa noite, pela primeira vez, Wagner dormiu no sofá. Enquanto Beth, na volta, se aconchegou no colchão inflável jogado no corredor.

No dia seguinte, as onze em ponto, o beliche foi entregue. O dia se arrastou, ambos ansiosos aguardando a noite cair para dormir em paz e acordar relaxados. Nessa noite, Beth não cozinhou, pediu uma pizza e esperou Wagner chegar. As dezesete horas, já estavam de pijama, esperando um do outro o convite: “Vamos dormir”!?

Assistindo tevê, por volta das vinte e uma horas, se olharam ao mesmo tempo e disseram que estavam com sono, rindo, foram para o quarto. Avistaram o beliche, se contemplaram “aliviados” pela decisão brilhante que tomaram e, rapidamente, começaram a descer os edredons e lençóis do alto do guarda-roupas. Foi quando que, em um surto quase psicótico, Beth gritou: “Eu fico com a cama de baixo”!  E, assim, mais uma noite de indecisões e idéias com futuras frustrações se adentrou na vida deles.