sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

O homem e seu cão.

Todo dia é a mesma coisa. Lá está o homem e seu cão.

Passo por ele, disfarçando. Não chamo atenção. Só observo e mais nada.

Comento com minha namorada, depois de um cutucão:
- “Olha lá, mais uma vez! O homem e seu cão”.

Não seria tão, digamos, espantoso se seus passeios diários fossem pela manhã. Mas, meia-noite-e-meia? Oras, o que motiva este homem à levar seu cão para passear este horário? Não é asneira!

Imagino este homem, belo exemplo da mais-valia, querendo dormir para trabalhar no outro dia. Seu cão, tirando o verniz da porta, com as patas tortas...

Pouco importa! Lá está o homem disposto - ou não - a levá-lo para mais um passeio noturno. Cão astuto e inoportuno.

Ele tem uma aparência sofrida, orelhas baixas e caídas. Acho que suportara muitas coisas na vida - estou falando do homem e não do cão.

Creio que, todos os domingos, ele deve jogar bola com seus amigos. Nunca foi à escola. Vai à missa. Não toma óstia, não fora batizado. Considera-se azarado, pois seu time de coração não está classificado para a grande decisão.

Confesso, tenho pena desse homem. Este cão não tem o estereótipo de melhor amigo. Acordar seu dono para sair à noite? Algo lhe consome.

Seria um julgamento precipitado? Pode ser que ele fique o dia todo amargurado. Na corrente, sem comida, água quente... Observando todos os lados. Vivendo a mesma rotina por muitos e muitos anos. Calado.

O que ele mais espera, é a chegada das noites quentes. Passear com aquele que ele mais adora. Que mais lhe dá carinho e lhe consola. Sempre agitado e cheio de disposição – mais uma vez, falo do homem e não do cão.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Se fez necessário.

É quase dezembro
Estou contra o cais
Olhando pra trás
Agora me lembro

Eu canto a vida
Esqueço a timidez
Poesias falidas
É minha insensatez

Tomando meu café
Sei, preciso ter fé
Em pensamentos soltos
Na sociedade dos outros

Não é mais uma banda
O som vem do coração

Dançando em uma ciranda
Compondo nossa canção

Preparo-me para o salto
Horizonte distante
E, é neste instante
Que grito mais alto

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Television-Head.

Falava que era possível um ataque americano ao Iraque, mas, ninguém acreditou nele. Mencionava que o adoçante era calórico, que a margarina era mais saudável, comparada a manteiga. Enfim, ninguém levava a sério o que ele dizia. Até que, em uma reportagem no jornal do horário nobre, deram-se as tais notícias. Foi à mesma coisa sobre o leite integral, sobre o santo daime, o homem na lua, a morte da princesa, a crise econômica, entre outros fatos. Tudo que ele falava, não era creditado. Vinha à televisão e todos, eu disse todos, acreditavam nela. A piada da TV era sem graça, mas, as pessoas estavam predispostas a rir. Essas coisas só aconteciam com ele. Era uma relação de amor e ódio. Depois desses e outros acontecimentos, ele percebeu que a TV tinha mais credibilidade que suas palavras. Não hesitou e tomou uma atitude radical. Na primeira oportunidade que ele teve, sem titubear, trocou sua cabeça por uma televisão.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Capa de jornal

Pais desesperados procuram pelo filho de 12 anos que está desaparecido. Eles só têm uma pista, um bilhete amassado, deixado pelo garoto sobre o travesseiro:


“Fui ver o mar além da tela de minha televisão. Fui ver se o céu é igual ao que eu vejo do alto da minha janela. Esperem, volto já. Decepcionado ou com mais vontade de sonhar”.

domingo, 2 de novembro de 2008

O mundo é uma cabeça.

Uns, pensam com a ajuda da cabeça do palito-de-fósforo.

Outros, com a cabeça fresca (ou então, com a cabeça dos outros).

Tem gente que pensa com a cabeça de baixo.

Alguns, com a cabeça-quente, não pensam.

De alguma forma, todo mundo pensa.

Pare pra pensar. Com qual cabeça você pensa?

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

A valsa do desamor.

Vá dizer:

- Eu tô bem.

Pode crer, foi desdém.

Ah! Não posso ser assim, não.

Sempre diz:

- Eu também.

Mas, pra mim não tá bem.

Pouco caso e um copo d’água.

Você quer solidão. Viver na contramão.

Minha calma é perfeição, viu?

Pode ser e será.

Faz assim, deixa estar.

Sentimentos. Sinto muito.

Essa dor não há quem supera.

Quisera.

Pudera.

Vou dizer:

- Eu tô bem também.

Auto-Juízo.

Não condeno o suicídio. Por que você condena?
Uma corda no pescoço, um tiro na cara, um salto no precipício. Pára!
Você tem uma vida regada de cigarro, álcool, drogas e frituras. Isto também é um indício. Loucura!
O que Deus condena? Uma morte instântanea ou uma lenta? Perjura.

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Boas novas!

Tenho novidades.
Mudei de cidade. Estou perto da minha infância. Tudo se renova, vejo gente nova e isso me dá esperança.
Novos ares me vigora, pois andava sem rumo. Talvez, aqui eu me aprumo, isso não demora. Assim não sofro mais.

Ótimas noticias.
Vivo animado, esqueci o passado. Sem medo da morte e sem malícia.
Que grande sorte! Desfiz de coisas antigas, encontrei um norte. Eu quero paz.
Hoje não acordei sem vontade de viver a vida.

Estou bem, até mais.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Conglomerado.

Todos os amanhãs deveriam ser domingo.
Todos os amigos deveriam ser A negativo.
Todos os padres deveriam ser casados.
Todos os juízes, condenados.
Todos os sonhos deveriam ser consumados.
Todos os erros deveriam ser perdoados.
Todas as promessas deveriam ser talhadas.
Todos os ares deveriam ser respirados.
Todos os pequenos deveriam ser adotados.
Todos os velhos, sagrados.

Todos os brancos e negros, deveriam ser pardos.
Todos os Jorges deveriam ser amados.
Todos os sonhadores deveriam ser exumados.
Todos os pessimistas, exterminados.
Todos os verbos deveriam ser conjugados.
Todas as mulheres deveriam ser exaltadas.
Todas as partidas, empatadas.
Todas as crises deveriam ser superadas.
Toda a unanimidade deveria ser lembrada. (Pois, da diferença nasce o preconceito e, de todo desamor, cresce o desrespeito).

Todas as fábulas deveriam ser contadas.
Todas as homenagens deveriam ser tatuadas.
Todas as vontades, expressadas.
Todas as poesias deveriam ser recitadas.
Todos os normais deveriam ser retardados.
Todos os desejos, saciados.
Todas as histórias terem seus pontos.
Todos os finais terem seus contos.
Todos os leites deveriam ser maternos.
Todos os amores deveriam ser eternos.

domingo, 12 de outubro de 2008

Sem figuras, nem diálogos.

Minha vida é composta por pessoas que buscam e acreditam em sua existência. Meus grandes amigos.

Que compõem a história do dia-a-dia, transformando sonhos em realidade. Sonhos concretos. Sonhos reais.

Uma vez que, acreditam quão, mesmo que real, o sonho é a melhor parte de nossas vidas.

Selecionam as melhores coisas do cotidiano para compor sua trajetória. Trajetória qual, faz a combinação perfeita com os que apostam e confiam em suas idéias.

Esses que acreditam, também têm um pouco de nós em sua essência e vice e versa.

Eles não precisam mostrar. Pouco menos falar. Sem figuras e nem diálogos, avaliam com o coração, outrora a razão e, cada um deles, de forma diferente, singular, atinge meu eu.

Todos nós estaremos unidos, sempre. Nossos laços serão eternos. Seguiremos o nosso coelho branco de cada dia. Não importa a toca, tampouco o esconderijo. Estaremos juntos, continuamente. Seguindo o fluxo natural da vida.

Pois, sonho que se sonha só não é sonho, e sim, ilusão. Mas, sonhos que dividimos, acreditamos e combinamos uns com os outros, se tornam palpáveis e verdadeiros. Assim como são as pessoas que compõe minha vida. Meus grandes amigos.

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Lamúrias de burguesa – Parte III

Prosa bucólica.

Hoje acordei muito bem disposta. Estou - ou pelo menos pareço estar - inteiramente restituída. Os bons ventos do interior servirão de tônico e, produziram em mim, resultados milagrosos.

- Hora de acordar, Mariana. Já são duas da tarde. Gritou minha avó. Ela é uma pessoa muito doce. Me trata bem e sempre me dá carinho e dinheiro. Depois da morte de meu avô, ela nunca mais foi à mesma. Minha avó era falante. Vivia sorrindo e não parava um só minuto. Hoje, vejo minha avó passando o dia todo em frente à TV ou lamentando a perca de meu avô. Não têm um só dia do qual ela não pede para morrer.

Pela fresta da porta, vi que a mesa estava repleta de coisas gostosas. Tinha pão quente, café moído na hora, leite, flores por toda a parte, biscoitos, suco de laranja, frutas, geléia, manteiga, queijos... Nossa! Odeio patê de presunto, mas ele também estava lá. Meus primos no trabalho, minhas tias fofocando na varanda. Esta é a semana na casa da minha avó.

Costumo pegar a bicicleta velha que era do meu avô e desaparecer por aí. Fone nos ouvidos. Óculos de sol. Cabelos presos com uma fita vermelha. Vou sem destino. Só paro pra colocar a corrente, novamente, na catraca ou para tomar um sorvete na praça.

Agora vou tomar banho, pois vou a uma tia que mora na cidade vizinha, por volta de uns cinco quilômetros daqui. O ônibus demora, tanto para passar quanto para chegar lá. Tenho uns primos lindos, porém são bobos e não me dão à mínima, eu acho. Minha avó me repreende toda hora, sabe que eu fico tentando aflorar os sentidos dos garotos. Pena que desta vez a Juliana não veio comigo, a gente sempre apronta alguma coisa.

Certa vez, a Juliana conheceu um rapaz que morava em uma república. Nós fomos até lá. Nesta noite, estava rolando uma festa para comemorar mais um final de semestre. Drogas e bebidas por toda parte. Fiquei com um carinha que não lembro o nome. O mais engraçado é que ele deve achar até hoje que me chamo Carol. Voltamos para a casa da minha avó, depois de dois dias. Os pais da Ju estavam lá e os meus também. Acho que foi a segunda vez que meu pai me bateu. Ah! Foi à terceira, a segunda vez foi quando eu cuspi na cara dele, depois de ter chegado bêbada em casa e a primeira... Hum! Não lembro. Falando em não lembrar, minha memória está cada vez mais defasada, estou esquecendo tudo. O ruim é que eu não me esqueço das coisas e das pessoas que queria tanto esquecer.

Quer saber, voltarei pra cama. Vou tentar durmir mais uns dez minutinhos, ou até, quando minha avó vir aqui puxar o lençol e brigar comigo por estar dormindo nua.

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

On/Off

A morte do homem, foi à forma que Deus criou para provar a própria existência. Morremos para servir de exemplo aos que ficaram em clemência.
Para lembrar a todos que o homem pode criar grandes bombas, pequenos chips, ir à lua, cremes anti-rugas, enfim, virar o mundo ao avesso. Confesso, achava que era possível, mas, não podemos driblar nosso encontro com a morte. Quem dera poder ter esta sorte.

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Lamúrias de burguesa – Parte II

Quando os ratos saem.

A casa estava repleta de pessoas, garrafas quebradas, libido, vícios e solidão. Os pais de Mariana foram viajar e a garota resolveu chamar algumas pessoas para uma festinha. Pessoas. Pois, nem todos eram amigos.

No sofá, garotos bêbados. Nos quartos, jovens casais se cobrindo e descobrindo-se. Na cozinha, sujeira. Em todos os cômodos, detalhes. Como de praxe, o som alto incomodou os vizinhos, que posteriormente contaria sobre o evento para os donos da casa. Porém, Mariana não se importava. Bebia a vida, dançava de um jeito esquisito – pois, as músicas também eram estranhas -, observava o mundo de maneira particular, ao seu modo.

A maioria das pessoas que ali estavam, pouco se importava com Mariana. No dia-a-dia, mal cumprimentava a menina. Eles queriam beber, só queriam se divertir e toda esta diversão fora custeada por ela. Mas, e daí? Ela pouco se importava com eles também, era um desdém recíproco.

- A festa tava legal, tirando a presença da Michele. Ela tava ali pelo Beto. Porém, se fudeu! Gostei muito quando ele foi dançar com a Gabi. Enfim, o castigo de um mês “sem” internet tá valendo à pena. Faria (e farei) tudo de novo. Tirando a ressaca que ta foda! Só não entendo por que minha mãe chegou antes, já que meus pais foram juntos... Enfim, até a próxima viagem! Vou ligar para o Gustavo, agora mesmo! Será que ele não veio, pois...

Sem “será” e sem “pois”. Na pressa, rasguei esta folha pela metade, fiquei sem saber o resto da história da festa que Mariana organizou. É, e vocês também.

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Alegorias sem alegrias.

Nunca espere reconhecimento em vida.
Os maiores gênios não ganharam o Nobel.
Em suas estantes, não há nenhum troféu.
Suas glórias, tiveram prestígio depois de suas partidas.
Nunca ouviram aplausos e conviveram com a ingratidão.
Este é o fardo para quem opta por estender a mão.
Eles são gênios e sempre serão.
E para um gênio, o maior prêmio é a solidão.

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Pré-texto.

Qualquer nota, não vale nada. Pode ser tudo.

Descaso.

Depreendido do ego.

Absurdo.

O pecado não é original. Lá fora chove.

Oculto.

Meias verdades espalhadas no quintal.

Insultos.

3/4

Em três ou quatro linhas

Eu dizia, “não era nada”.

Pouco mais que dez palavras.

Omissão dos sentimentos.

Móbile.

Cinema não é pretexto para comer pipoca.
Como toda arte, pode ser concreta ou abstrata.
Movimentação.

Com base em qualquer fato ou fruto da cabeça de algum maluco com uma câmera na mão.

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Psicoamorlogia.

Freud explica? Impossível.

Jung comprova? Duvido.


Nietzsche nega? Confirma.


Kant aprova? Até parece.


Goethe ratifica? Ah! Esquece.


Comam os livros.
Façam todas as experiências possíveis.
Nada disso adiantará.

Ninguém nunca compreenderá o que eu sinto por você.
É perpétuo.
Algo que nunca acabará.

sexta-feira, 4 de julho de 2008

Vice e versa.

Areia, tempo.
Rio, vida.
Vícios, parcimônia.
Choro, bebê.
Família, refúgio.
Tom Jobim, Bossa nova.
Semente, início.
Garoa, paulicéia.
Cristo, redentor.
Salvador, candomblé.

Homem, dinheiro.
Preso, liberdade.
Flores, amores.
Flores, dores.
Doença, a cura.
Natureza, candura.
Idosos, histórias.
Criança, o futuro.
Amigos, amigos.
Negócios, a parte.

Baú, tesouro.
Amanhã, esperança.
Velho, usado.
Quase, famigerado.
Fogo, fumaça.
Idéias, uma folha de papel.
Vento, movimento.
Horizonte, distante.
Direitos, humanos.
Felicidade, um motivo.

domingo, 29 de junho de 2008

Réquiem.

Aquele que faz diversas perguntas, na verdade, quer responder. Há também os que preferem o silêncio, estes sempre têm algo a dizer.

Saber se comunicar sem o uso das palavras e, principalmente, entender alguém antes de quaisquer gestos, é sinal de sensibilidade. Ter a plena certeza que sabe, por julgar pensamentos sem nenhuma autoridade, é indicio de leviandade.

Costumamos enxergar somente aquilo que fora de encontro com o que queremos achar. Pois, o tolo insiste no erro, diferente do sábio que o reconhece. Desconfiamos das nossas certezas e temos certeza das nossas desconfianças.

Nossos pensamentos e imaginações devem ir além. Porém, temos que manter os pés no chão. Lembre-se: Antes de aprender a voar é preciso dominar a forma perfeita de aterrissar.

Não se perca em meras tentativas de acerto. Erre. Mas, erre tentando acertar. Não deixe que a teimosia lhe tire a visão. Nosso maior erro é querer acertar sempre.

Sei que podemos viver mais com menos emoção. Contudo, acredito que viver mais está na intensidade e não na extensão.

Nunca conte tudo que sabe, pois sempre existirá alguém que se aproveitará de suas idéias. E, quando eles acharem que era tudo que poderia oferecer, surpreenda-os com um As escondido na manga. Mostre que sempre haverá a necessidade de gritar mais alto.

Jamais mostre a origem da sua originalidade, revele apenas sua sabedoria apontando diversas possibilidades. O pecado capital mora no interior.

Confunda todos aqueles que você não consegue convencer. Conte seus segredos ao pé do ouvido, pois – me permita Dijavanear – se é segredo, é sagrado.

Acredite mais em seus instintos, não se perturbe com tantas opiniões. Dentre todas elas, há aquelas que lhe empurrarão e as que insistirão em lhe puxar.

Siga o conselho de Wim Wenders: “Quanto mais opiniões ouvimos, menos enxergamos”. Porém, um conselho sempre é muito particular. Sendo assim, em verdade vos digo, um conselho seria melhor proveitoso se fosse aplicado para aquele que o dá.

Ao terminar de ler este texto recheado de conselhos, viva como antes, termine sua leitura no fim, não leve isso adiante. Como todas as frases transcritas aqui, este último conselho também foi para mim.

quarta-feira, 25 de junho de 2008

O tom das estações.

Primavera
Cravo na lapela,
Cesta com frutos, a ela oferece.
Coroa de flores no cabelo dela.
Cada instante é pra sempre, nada se esquece.
Afinal, é primavera.

Cheiro de flor,
Cheiro de festa.
A beleza é o que resta.
Nada mais interessa.
Afinal, é primavera.

Verão
Vestido no varal,
Anuncia a estação.
Ritmo de carnaval,
Enaltece o verão.

Batuques, tambores e afins.
Esta mistura nos aquece.
Pierrô, colombinas e arlequins.
O calor humano sempre padece.

Um arco-íris se forma da água que sai da mangueira.
A folia nos envolve em um tom de brincadeira.
Diversão no quintal, a infância resiste.
As janelas estão abertas, pois a felicidade na rua reside.

Outono
As folhas d’outono pelo chão se espalham,
Período velado, sombrio e multicolorido.
Pisar em folhas secas, ouvir barulhos estalados,
Contrapondo o vestuário garrido.

Em cada instante uma suave brisa,
Aclamando por um acorde diminuto.
Alaranjada sua cor, és notável, és rígida.
Faz da noite gêmea do dia, colhendo um desejo astuto.

Inverno
A mais longa estação, a mais especial, a mais fria.
Aquecerei-te neste inverno, envolvendo-te nesta magia.
És encantadora, és lírica, harmoniza a distância de tudo.
Seu cachecol felpudo envolve meu paletó-de-veludo.

A fumaça que sai da fala ultrapassa a sala e atinge o peito.
A palavra doce da amante rara, no ar paira e do mundo esqueço.
Aparência romântica, o glamour da estação.
O inverno é isto e mais nada, miscelânea de poesia com emoção.

quarta-feira, 19 de março de 2008

Lamúrias de burguesa – Parte I

Introdução

Certo dia, entrei no quarto de Mariana e encontrei um diário em cima de sua cama. Algumas folhas rasgadas e outras ilegíveis. Antes que ela me visse, retirei algumas páginas, com um pouco de seus segredos anotados ali e pulei a janela.

Mariana é uma menina mimada e gosta que tudo seja feito a tua vontade. Única filha de um casal em crise. Vive no mundo da lua e não presta atenção nas coisas ao seu redor. Fria. Gosta de falar, mas não gosta de ouvir. Aconselha a todos, porém nunca segue os conselhos de ninguém.

Confesso, eu tinha uma idéia formada sobre ela, entretanto tudo caiu por terra quando li essas páginas que roubei de seu diário.

Ela sente medo, como toda menina de vinte e poucos anos, mas seus medos vão além. Cria um universo de lamentações em seus pensamentos. Sente por acreditar que as pessoas que marcaram sua a vida, não a levarão em suas memórias. “Sentir medo é normal, mariana”. Esta frase está reescrita inúmeras vezes nas páginas de seu diário. Uma espécie de conselho pra si mesma.

Um trecho que me deixou perplexo, porém me tirou boas risadas, foi este que transcrevo a seguir:

“Gustavo já estava me esperando. Entrei sem bater. Era rotina! Falou que queria me comer bem ali e gravar tudo para assistirmos depois. Adorei a idéia! (...).
(...) Agora toda vez que nos vemos, nos comemos loucamente e, após assistimos nosso vídeo pornô-sensual, repetimos a dose”.

Mariana é uma menina estranha, tem poucos amigos e gosta de viver a mira dos olhares dos curiosos. Gostaria de ler seu diário por completo e saber mais sobre a sua vida.

As páginas que tenho, penso em fazer um filme, porém com outros nomes, com outras situações. Não sei. O que sei, é que esta história não acabará por aqui. Tenho algumas páginas do diário dela e, de alguma forma, compartilharei seus delírios com quem se interessar. Como eu me interessei.

sexta-feira, 7 de março de 2008

Serenata.

A luz da lua dançava sobre as águas plácidas, no ritmo de uma velha canção.

O negro oceano se tornou claro ao som de um violão desafinado e de uma voz levemente rouca.

Sobre o brilho do mar do atlântico e debaixo dos olhos apaixonados de um jovem casal, os primeiros raios solares apareceram.

Ainda me lembro dos olhos mareados dela, quando ouvira os acordes e as frases soltas que falavam de amor.

Lembro-me perfeitamente das caras e bocas dele, que empolgado com a bela paisagem – tanto da linda imagem dela, quanto da vista daquela imensa baía – inventava melodias e cantava poesia ao som do mar e a luz do céu profundo.

Um mergulho em águas frias. Fotografias para registrar.

Esse momento ficará na minha retina. Permanecerá na memória de todos aqueles que passaram pela orla. Será tatuagem no peito deste jovem casal.

Estará sempre presente nas histórias contadas a beira mar, que teve como testemunhas principais, o céu, o sol, os astros e o luar.

quinta-feira, 6 de março de 2008

Gavetas e gravatas.

Tira a gravata.

Feche a gaveta.

Corra para a cama.

Ela lhe espera.

Feche os olhos.

Beija-a na boca.

Tira-lhe o sono.

Chama-lhe de dono.

...

Toca o telefone.

A bolsa se rompeu.

Feche a gaveta.

Afrouxe a gravata.

Ela concebeu.

...

Os primeiros passos.

As primeiras palavras.

Só repetirá o que lhe for falado.

Este é o ser humano.

Se não for assim, ficará calado.

...

Vocês envelheceram.

Eles te esqueceram.

Agora são três.

Vestem-se diferentes.

Cantam em inglês.

Sua esposa lhe espera na cama.

Ela dorme logo.

Você desencana.

...

A vida se aproxima do fim.

Encostaram a gaveta.

Apertaram a gravata.

Vejo-lhe de olhos fechados.

Flores e choros por todos os lados.

...

Você se tornou uma lembrança.

Lágrimas que escorrem pelas gravatas.

Fotografias no fundo de uma velha gaveta.

Dicotômicos.

Ouço tal conversa e considero bastante atraente. Assuntos interessantes. Papo inteligente.

Certo apego as normas cultas. Diversas maneiras de ver o mundo.

Fala-se sobre música, arte, cinema, enfim. Fala-se sobre você. Fala-se sobre mim.

Eles são engajados. Passam noites em claro. Roubam livros. Quebram vidraças. Visões românticas e apelo ao belo. Querem a paz através da desgraça.

Estão à frente da gente. Em um tempo interno diferente. É sobre isto que eles falam. Mas, não é isso que eles sentem. Não acreditam em Deus. Eles mentem.

Não toleram a fome. Pouco menos as guerras. Pintam a cara e se abraçam. Tudo isso com seus cérebros bem alimentados, na proteção de suas câmeras de segurança e refrigerados pelo ar condicionado do apartamento dos pais.

Fim de semana na casa-de-campo. Uma reunião regada a bebidas caras e conversas fantasiosas. Brigam, falam alto e fazem as pazes. Eles realmente não sabem o que fazem.

Eles são católicos. Eles não sabem rezar. Eles são caóticos. Eles não sabem amar. Contraditórios e vivem à quem. Eles são "o mal". Eles só querem "o bem".

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Quanto tempo leva um dia?

Anos?

O dia pode se arrastar lentamente, nos dando a impressão que está durando anos para passar.
Pode ser intenso e fazer com que não o esqueçamos por anos.

Horas?

Em cada dia que se vive, aproveitamos apenas algumas horas do dia. Evidenciando e consagrando somente as verdades que elas nos passam. Mas, se elas não passam? Oras, se vivermos na monotonia, às horas nunca passarão.

Minutos ou segundos?

As coisas boas cruzam rapidamente nossas vidas. Um minuto pra vivê-las. Em um segundo já se foi.
Diante de nossos olhos, essas coisas têm um tempo curto. Um período rápido. Breve. Nada é para sempre.

Momentos?

Cada momento deve ser vivido do jeito mais verdadeiro e claro possível. Saber fazer valer cada inocência e cada malícia. Valorizando ano por ano em que vivemos. Deslumbrando todas às horas, minutos ou segundos que estamos de frente com a vida. Recheando cada dia de momentos atemporais.
Viva com paixão e não tenha compaixão do que passou. Do crepúsculo ao alvorecer, viva. Pois, a vida é feita por instantes.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Sonho conjugado.

Nossos sonhos podem ser tão reais quanto à realidade que sonhamos.

Pensando bem, a realidade é feita por sonhos e os sonhos são reais. Os sonhos não passam de uma mentira. Porém, nem tudo é uma mentira. A verdade é essa.

Sonhar é voltar-se pra dentro de si, para fora do que se vive e já foi, quando o que já foi pode vir.

Pensar em algo que se passou antes de dormir para sonhar com este durante todo o tempo.

Sonhar com algo que nunca foi vivido ou então, o que nunca se viverá.

Tudo poderia inverter-se e enfim, acordaríamos para um sonho e dormiríamos nesta realidade. Será que tudo que é real não passa de um sonho? O concreto na verdade é ilusório?

Sonhe.

Por mais que tudo se torne tão real e as coisas tendem a serem cada vez mais pragmáticas, sonhe. Faça a escolha de viver o que acredita. Deixe os pequenos sonhos para as pessoas pequenas, pois as pessoas grandes não têm limites para sonhar.

De olhos abertos ou fechados, sonhe.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Silêncio.

Lembranças de um lugar estranho.
Tento correr, mas não avanço um passo.
Não tenho forças, não meço o tamanho.
Pessoas passam por mim, porém nada faço.

O vento bate na cara, o sol arde na pele.
Tudo parece real, como nos filmes passados.
Não tenho o controle de mim, tudo me fere.
O assassino me alcança, vejo panos rasgados.

No despertar excitado, não lembro o que passou.
Trechos e pedaços sem sentidos. Tudo está recalcado.
Sobraram-me os conflitos, a subversão se formou.
O inconsciente tornou-se vivo e nesta estrada fico calado.

Urbânia.

Não gosto de viver a espreita. Caminho na multidão.
Gosto do cheiro do combustível no ar, das buzinas dos carros e do vai-e-vem das pessoas.
Um jornal pela manhã.
Falar sobre futebol.
Almoçar assistindo televisão.
Uma cerveja no final da tarde.
Passar o dia com um fone-de-ouvido.
Sem devaneios.

Essas emoções têm efeitos duradouros.
Emoções estão ligadas ao valor que damos as diversas situações.
As situações do dia-a-dia me motivam a querer mais.
A poluição cheira a flor.
As buzinas são harmoniosas, como numa sinfonia.
O transitar das pessoas remetem passos sincronizados de uma companhia de balé.
Cada estresse vale à pena.

Qual a emoção mais coerente para este estilo de vida?
Saber que sou parte integrante deste grande organismo, faz-me transbordar de um incomparável orgulho.
Entendo e encaro a vida mais contemporânea do que arcaica.

Trombetas em sol.

Desde pequeno, ouço dizer que o mundo acabará. Eu sinceramente, queria presenciar.
Será que isto é um sinal? Será que o fim dos tempos é assim, tão mal?
Afinal, será que o homem está voltando ao ser um animal irracional?
Deus é testemunha e eu também quero ser. Isso é natural?

Assim, só.

Primavera. Inverno. Outono...
... Outro ano já se passou.
Calor do verão. Os dias se estendem...
...Vocês não entendem. Nunca verão.
Não esquento. Estou calmo.
O que é certo? Não estou salvo.
Gosto de ficar assim. Só assim.
Talvez não seja certo. Vou ficar só.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Filosofia de botequim - Parte IV – Negue-se.

Encarar as situações do cotidiano entendendo o não-sentido das coisas, de forma apática, não institui que você é omisso. Pelo contrário, trata-se mais de uma negação, de uma forma atuante de mostrar-se indignado com tal. Uma negação remete a uma afirmação e, assim sendo, a indiferença afirma um significado paradoxal.

A lógica do absurdo de viver o não e negar algumas circunstâncias da vida é uma dialética própria, dentro de uma realidade única, que provoca e controverte a realidade que entendemos como a normal, aceita por todos. O tal senso comum.

Parece complexo a primeiro momento, porém a própria filosofia já diz. Negar sua própria existência faz compreender o porquê que você existe e o porquê de todas as coisas.

É como votar nulo, você não precisa votar em alguém para exercer seu direito como cidadão, tampouco votar no menos pior. Ou então, achar que eleição é uma corrida-de-cavalos e não votar no candidato que você se identifica por achar que ele não irá ganhar.

Encare seu não como uma opinião afirmativa. Negue-se. Viver e não ter a vergonha de se negar. Sonhar a beleza de ser um eterno indócil.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Luz. Câmera. Ação.

Um dia útil se fez inútil. Plena semana, em qualquer bar da rua augusta, uma junkiebox tocava Morrissey, R.E.M, AbbA, The Doors, Tim Maia e Nelson Gonçalves. Um filme do Kubrick passara na T.V. dando ritmo ao ambiente. Desbunde. Pessoas indo aos seus trabalhos e nós lá, bebendo e falando sobre tudo e todos. Homens também fofocam.

Ocasiões que nos fazem ver como é importante ter amigos de verdade e mais ainda, como é importante a cerveja estar sempre gelada. O papo fica quente quando a cerveja gela a garganta. As risadas pegam fogo no ar e o calor da amizade aumenta.

Tudo está em seu devido lugar, menos nós. Ou lá seria nosso verdadeiro lugar? A moldara desta pintura é velha, as histórias se renovam e a bebida não esquenta. É inútil prever o que virá depois. Não espere o óbvio. Na bíblia que escrevi, há um versículo que diz: "Nenhuma loucura há de ser em vão". Por uma vida mais non-sense, este é o meu lema. Por que não?

Definitivamente, a noite não foi feita pra dormir e parafraseando Chico, lhe dou um ótimo conselho: É inútil dormir achando que a dor passará. Espere sentado ou você se cansará e está mais que comprovado, quem espera nunca alcançará. Por isso, vá!

Vocês precisam conhecer meus amigos. Estou certo que vocês precisam. Como em um filme antigo, me queimo brincando com fogo. Sei que vim de longe, não me importo. Pois, além de conhecer meu lugar de origem tenho a oportunidade de conhecer o seu universo. Bebo a felicidade e sobre a sinceridade me esqueço do amanhã. Um brinde!

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Coisas do verão.

Pode deixar tudo como está, não precise arrumar nada. Somente estique o lençol e feche as janelas.

Saia sem fazer barulho. Desligue tudo.

Confira se as luzes do corredor estão apagadas. Tranque as portas.

Veja como o dia está lindo. Hoje não irá chover. Talvez, uma leve chuva de fim-de-tarde.

Lembrei-me daquela viagem, das brincadeiras e de todas aquelas pessoas que eu nunca mais verei. Outrora era diferente, era excitante.

A pele ardia. Este ardor provém do sol e do prazer de ficar exposto a ele.

Nossa! Como eu era bem quisto e bastante requisitado.

Parece que a gente vive apenas as coisas que passarão, só pra termos a dor de saber que não voltarão mais.

As lembranças doem.

Tempestade vista da janela. Vontade de correr lá fora.

Suas roupas não parecem às mesmas quando estão no corpo de outra pessoa. Nem os seus sapatos. Nada parece igual.

Hoje, um tanto mais casto, vejo-me distante de tudo e sinto que às vezes o sol não queima mais.

Olhando para a varanda, dentro dessa saleta, acredito que o tempo me mostrou a vida, me apresentou a graça e a desgraça de envelhecer, me fez crer no amanhã e esperar meu repouso em plena calmaria.

sábado, 5 de janeiro de 2008

Primeira vez.

Se por um acaso alguém perguntar por onde ando, diz que estou sem destino, andando por onde o vento vai, seguindo o que o instinto faz, vivendo por um instante, correndo sem olhar para trás.

Se alguém por um acaso perguntar o que ando fazendo, diz que estou realizando sonhos. Me libertei de velhas correntes. Troquei de pele, de humor, me desfiz de antigas idéias e de sapatos apertados. Sempre sei o que faço. Não darei motivos. Mas, se precisar saio no braço. Estou buscando paz e pela primeira vez, vivendo mais.

Disritmia.

Passo firme. Voz rouca. Fico tonto. Mexo os dedos. Tic-tac do relógio me hipnotiza. Os minutos me controlam. Estado de choque. Não há flores no jardim. Vento forte. A riqueza dos detalhes estão em segundo plano. A vela se apaga. Nado contra a maré. Nada de sair do lugar. Uma voz me chama. Um sopro me guia.

Lembranças de um passado recente. Quarto escuro. Cheiro azedo. Silhueta de alguém. Uma luz no vão da porta. Orações são em vão. O grito preso na garganta se liberta. Agonia.
Volto no tempo com a quebra da linearidade. Disritmia. Ouço uma canção. Fala-se de esperança.

Trago no peito a herança da solidão. Trago na alma o lamento e a dor. O desespero e os ranços da mente me deixam abaixo da linha da consciência. A tinta seca. A caneta falha. A revolta cresce. A força padece. Nada não valha.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

Ao cair da noite.

Com ela, pequenas coisas parecem especiais. A vida se apresenta da forma que realmente é. Os atrasos são perdoados, as surpresas são gratas, o frio não arde na pele e a espera nunca é uma tortura. Eu sempre procuro. Eu sempre esqueço. Eu sempre conheço mais. Eu sempre imagino mais. Diferente? Sim. Indiferente? Jamais.

Ela é obscura e reveladora. Céu límpido, brilhante, nebuloso, tenebroso e tenso. Ela é minha fuga estrelada ou chuvosa. Para assistir televisão, pra namorar, pra dormir, sair pra dançar, pra criar, usar a imaginação.

Ela é uma garota, uma bela atriz, um velho ou um moço. Ainda é cheia de manias infantis. Mimada, gosta de tudo ao seu modo. Muda seu humor rapidamente quando as coisas não saem como planejou. Porém, dificilmente as coisas que planeja não saem como imaginou.

É com ela que procuro entender, de certa forma, o porquê dos acontecimentos, dos fatos que me cercam, mesmo que não me agrade. Só por ela que tento aprender com as experiências que a vida propõe. Na sua presença, me torno um moleque, faço graça, rasgo os lixos, pixo os muros, escrevo a noite, leio livros, corro nú por aí. Amo de verdade. Quando estou com ela, nunca fujo de uma briga. Meus olhos refletem meus amores, meus desejos e as luzes dos postes.

Maquiavélica, sabe esperar a hora certa. Quase uma heroína. Lágrimas e sorrisos. Segredos jamais revelados. Sentimentos diversos a compõe. Certas horas insegura e confusa. Poucos a conhecem. Todos querem um pouco dela. Os que a rodeiam admiram-na ou invejam-na. Com ela, uma simples viagem se torna inesquecível e única. Seu universo é enigmático.

Maravilhosa, tem força, é bela e verdadeira. Nunca encontrei alguém que enxergasse tanta coisa boa em tudo que está em sua volta, com bom humor e de forma tão positiva. Ao mesmo tempo em que está disposta a aventuras, também se faz presente nas horas tranqüilas. Com ela me sinto mais vivo, sinto que a vida é uma música e que eu posso ditar o ritmo.

Esta é a madrugada, linda e surpreendente.

Pedido de réveillon

Todos os pedidos de réveillon deveriam ser simplificados, nada de carro do ano ou uma casa no litoral, um emprego melhor ou uma viagem internacional. Desejo um novo começo, um ano realmente novo, para que a vida seja nova e não só a folhinha de calendário. Deixando para trás as coisas velhas, ultrapassadas, que não servem pra nada.

Que tenhamos tempo pra acordar tarde, beijar quem amamos, andar de bicicleta, caminhar, ler mais livros, tomar mais porres, enfim, fazer o que gostamos e/ou temos vontade de fazer de forma mais intensa e mais verdadeira.

Que comecemos um novo regime e mesmo que não consigamos vestir aquele jeans, que compremos um maior. Que possamos nos encontrar mais vezes com os amigos, com os entes queridos. Mais ocasiões para jogarmos conversa fora. Para que busquemos vencer nossos medos, preconceitos, lutarmos pelo que acreditamos. Que almejamos mais, sempre mais, sem limites e sem receios.

Para tudo isso acontecer, devemos encarar o novo. Desejarmos a mudança e buscarmos mais cumplicidade e harmonia em nossas vidas. Aceitando as diferenças, acreditando em nossos sonhos, buscando a felicidade e mais brandura para que nossa vida seja cada vez melhor.

Dê mais socos e tome mais tapas, grite mais alto, levante. Pulemos as sete ondas da mesmice, deixando para trás a falta de vontade de viver, espumas, mau humor e carência de compaixão. Viva com mais paixão.

Por um ano novo mais insano, mais intenso, cheio de histórias e contemplado de lembranças para o próximo ano. Quando este ano novo se tornar velho, que seja sábio, que nos ensine, pois velhice sem sabedoria é tempo perdido.

Que todos os anos novos sejam repletos de desejos, de votos e de recomeços. Que este ciclo se renove repleto de vontades, loucuras e realizações. Pois, quando a gente menos espera, tudo recomeça, tudo se renova, a vida flui naturalmente e a banda não pára de passar.