sexta-feira, 30 de outubro de 2020

Dia-a-dia, logando

Se o mundo pudesse me ouvir, pra além da roupa que eu vou, falaria sobre tentar outra vez, como nossos pais.

Os bons morrem jovem, eu sei, mesmo escutando seus sinais, mesmo meu mundo caindo, levo a vida assim, como água do mar. Nada do que foi será do jeito que ja foi um dia, pois tudo passa, tudo passará.

Apesar de muito moço, levando uma vida sossegada, como um pescador de ilusão que não tem medo da onda do mar, sou réu confesso. Deixe-me sozinho porque eu preciso dizer que te amo, como se não houvesse amanhã.

Pra ser sincero, sem vaidade em mim, se você parar pra pensar, verá que o tempo passa e nem tudo fica, que nossos filhos, que tem nome de santo, não nasceram pra sofrer enquanto o outro ri.

Vou caminhando contra o vento, esperando fechar o verão. Falo sozinho, no silêncio da noite, mesmo sabendo que as rosas não falam. Afinal, a luz e a escuridão fazem par, verso e reverso, em um espaço curto, quase um curral.

Hoje eu perguntei a Deus do céu, porque ano passado eu morri? Porque seus olhos são embotados de cimento e lágrima? Mulher! Você é linda, debaixo dos caracóis dos seus cabelos, devia ter amado mais, até errado mais. Não se esqueça de mim, não é só um eterno delírio de um compositor, não rasgue minhas cartas.

De toda forma, chega de saudade! Não quero dinheiro, não quero lhe falar do meu grande amor ou talvez vou ficar esperando na janela a morte chegar. Saiba que os sonhos não envelhecem, mas nós envelhecemos na cidade. 

Eu sei que vou te amar, não quero que tudo vá pro inferno, por toda minha vida eu vou te amar. Mais uma vez, descendo a rua da ladeira, sinto muito amor, faça o que tu queres, eu sei que você sabe que nossas vidas e nossos sonhos tem o mesmo valor, mas não se esqueça meu amor que o mundo é um moinho. 

"Não me abandone jamais", gritou do alto da montanha um garoto que como eu amava uma menina má. Eu só peço a Deus que você não deixe de lembrar que te ofereço meu calor, meu endereço, a vida do meu filho e as canções que você fez pra mim.

O que a vida fez da nossa vida? Não vou me adaptar! Eu me nego. Meu coração já aposentado, não sentindo nada, nem medo, nem calor, não está disposto a esquecer seu rosto, nem mesmo a força do tempo irá destruir. 

Me leve sem destino! Antes que seja tarde, peço ao tempo mano velho, que um dia a gente possa se reencontrar numa bem melhor, pra gente ver o mundo com olhos de criança, onde nada de mal nos alcança.

segunda-feira, 28 de setembro de 2020

Como toalhas brancas

Quando irá se separar da separação. Quando o abandono te abandonará? A rejeição. Quando rejeitarás? Quando abandonarás? Irá passar a dor? Irá passar pro outro, a dor, Ator. 

Ilusão da mente. Que a gente não exerga, só sente e mente. A gente inventa só pra sentir, daí quando a gente sente, deixa de ser invenção. 

Como toalhas brancas, que a gente lava pra tirar a mancha, numa última tentativa de ainda usá-las, mas se não ficarem limpas, a gente joga fora no lixo ou se torna pano de chão. A gente sabe que não ficará igual a quando ganhamos no enxoval, mas a gente tenta.

E assim, é o fim. Elas deixam de serem brancas, viram cinzas. Deixam se ser toalhas, deixam de ser quem é ou se transformam, cumprem seu destino, mas elas não são descartáveis talvez nós somos e projetamos nas toalhas.

Do ponto de vista filosófico, "estar de barriga cheia" não quer dizer muita coisa. Urubus e abutres estão sempre satisfeitos, porém alimentados de carniça. Assim, como pessoas que se sentem bem quando outros estão mal, ou supostamente mal, parasitas. Parasitas param e sugam a energia, até a morte do sistema e saem, pôr que ali não serve mais, e vão parasitar em outra vida até a morte. Assim, como toalhas brancas do enxoval.

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Dos 13 aos 29

Beber é encher e esvaziar, encher-se e se esvaziar. Encher o copo, esvazia-lo. Encher o peito de coragem, esvaziar a vergonha. Encher o ouvido do garçom com lamurias, esvaziando o peito das dores e dos amores. Um gole de fé, lembranças sem cores. 

Encher o punho cerrado com uma garrafa, esvazia-la com raiva. Esperanças perdidas, renovação pra mais um dia. É se apegar a fé e se afastar de Deus. É abraçar o mundo e cruzar os braços. Beber é mais do que engolir um liquido qualquer, é tomar um gole de loucura, um porre de lisura, é encarar a vida de frente, é cair na esquina e deitar sem consciência das mazelas, viver como indigente. 

É chorar as feridas que não cicatriza ou congela. É entender que a vida é o ensaio de uma peça que nunca estreará. Encher o copo é como preencher a alma, acalma. "Desce mais uma! Pra eu subir sem norte. Só assim me sinto forte. Me fortalece e aquece"! 

Crio asas, tenho apogeu. Corro sem sair do lugar. Durmo sem querer acordar. Bebida cara ou barata, social ou sociopata. Para um pobre ou um ricaço, é na bebedeira que se igualam, parece mamadeira, choram e se abraçam. 

Beber é se preparar, perder a censura. Rito de passagem do sábio. Uma garrafa de vinho antes do sermão. É dizer a verdade, andar na contramão. Quando bebemos, não vemos as coisas como são, mas, como somos. É encher se e esvaziar-se. É viver o próprio sonho.

domingo, 17 de agosto de 2014

Trinca de ases

Em uma roda amena estava Buda, Cristo e Maomé. Sentados, bebendo, fumando e dizendo: 
"Oxalá! Quão é importante termos fé".

sexta-feira, 26 de julho de 2013

Uma provocação

Olha! Compreendo minha intolerância com o que julgo intolerante. Justificável? Talvez. Afinal, quem não tem uma boa justificativa? Percebi como sou parecido com o que critico! Mentira. Percebi nada! Não é confuso? Haja negação. Isso explica muito coisa... Ou não!? Somos tão iguais em nossas diferenças! Só em nós mesmos podemos mudar alguma coisa, nos outros é uma tarefa quase impossível, disse Jung na busca de compreender o incompreensível. Ainda bem que é quase impossível. Quase!

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Quanto mais

Em alguns momentos, aquele famigerado som do silêncio noturno, me faz chegar à beira da loucura. Não sei ao certo se é por perceber, então, o motor da geladeira antiga, cigarras ao longe, na mata virgem que cerca minha vila de nascença (virgem, até a ganância do homem percebe-la e querer enriquecer com seu rico cabaço, fruto raro), um tom em lá que o ar frio da madrugada sopra, semitonando a cada instante, misturado com os veículos acelerados lá fora ou, até mesmo, o apito do vigia que nada vigia, pois, não temos nada pra ser vigiado. Tantos latidos e miados, eu nem tenho bicho algum, só um corpo cansado e, espera, tenho sim, um pássaro velho que, assim como o dono, já não canta com o mesmo fôlego. Enfim, esta louca sinfonia noturna ecoa na véspera do sono, me fazendo dispersar (afinal, desperto é disperso), aflorando a insônia corriqueira e me obrigando a escrever diversas coisas, como essa, por exemplo.

Então, fico na duvida se conseguirei dormir rapidamente. Crio métodos infalíveis que sempre falham, me viro de lá pra cá, coloco minhas mãos por baixo ou em cima do travesseiro, tanto faz, nunca estou totalmente confortável, deve ser pelo colchão já batido, talvez. Me coço, esfrego os pés um no outro, posições diversas com uma só finalidade: Dormir! Como foi o dia anterior? Como consegui? Não me lembro. Na maioria das noites é assim, quase um KamaSutra do sono, inventei esse termo agora, em uma das minhas idas e vindas, de tentar dormir e deixar de escrever idéias soltas, porém, me ajeito novamente na cama, mas, penso um pouco mais e tudo vem a tona, voltando aos rabiscos.

Os ruídos não param nunca! Percebo que essa sintonia fina, que sopra um agudo chiado, não está fora do quarto ou da minha casa, mas, está dentro da minha cabeça, em uma harmônia desarmoniosa. Quanto mais presente é uma coisa, menos notamos sua presença, infelizmente, é assim. Bem, desisto de emanar lamúrias, jogo o bloco de anotações de lado, porém, antes disso, já fui e voltei inúmeras vezes, arremessei pela quarta vez agora, creio. A cada pensamento, sinto a necessidade em anota-los. Acho até que já descobri a cura da AIDS ou uma fórmula química pra converter rapidamente, em segundos, água do mar em água potável, porém, como não as anotei, certo que lembraria no outro dia, acabei esquecendo, claro! Anoto tudo, desde então, sempre que possível, bem verdade.

Enfim, cubro a cabeça, lembro rapidamente do dia que se passou e organizo mentalmente os afazeres do próximo. Assim, bocejo e mal percebo que dormi, parece até que foi tão rápido. Logo, quando me dou conta, já estou sonhando com algo que, provavelmente, esquecerei ao despertar. Esquecer meus sonhos importantes também é outro dilema, não sei porque os considero importantes, uma vez que não lembro deles (está bem, réu confesso, aí está a importância: Esquece-los para não enfrenta-los). É isso, amanhã é outro dia, a noite é outra tormenta.