quarta-feira, 24 de março de 2010

Emprega-se: Jovens solteiras ou sem filhos.

Era este o anúncio que, além de dar título a esta história, Camila leu no jornal. O emprego era para trabalhar como secretária. Não se exigia experiência. Desejável possuir conhecimentos básicos em informática e ser comunicativa. Porém, a candidata deveria ser solteira ou não possuir filhos.

Ora, Camila tinha todos os pré-requisitos à vaga, menos o estado civil e a condição de mãe. Casada a pouco mais de cinco anos, mãe de duas crianças, Camila não entendera por que uma empresa não contrataria alguém só por estar casada ou ser mãe. Sendo assim, foi até o endereço de recrutamento.

Chegando lá, a fila não era grande, por volta de oito jovens como ela. Encaminharam as candidatas para uma sala e distribuíram fichas para serem preenchidas com dados pessoais, experiências, entre outras informações relevantes. E, é claro, o tal do estado civil e os dependentes.

Após entregar as fichas, todas as jovens continuaram na sala aguardando uma próxima etapa. Neste ambiente, havia uma televisão e alguns salgados. Porém, nenhuma garota estava à vontade para se servir. Mas, pelos olhares e constante umedecida nos lábios, todas estavam com fome.

Uma senhora, trajando social, apareceu na porta da sala com as fichas em mãos e chamou garota por garota. Tratava-se de uma entrevista, onde a empregadora perguntaria sobre as informações citadas na ficha.

Camila foi à quarta ou a quinta garota a ser chamada. Sentou-se de frente a senhora que lhe desejou bom dia e começou a sabatina. A entrevista estava caminhando bem, Camila era, de fato, muito comunicativa. Mas, a empregadora logo informou que, apesar dos atributos da jovem, o emprego era para moças solteiras ou sem filhos. Camila que, já aguardava por este momento, questionou tal condição. A senhora então explicou, expondo que, pelo fato da jovem ter filhos, seria bem provável que poderia faltar no emprego devido à dependência que as crianças têm da mãe.

Esbravejando sobre a condição, Camila argumentava e buscava convencer a empregadora a dar-lhe essa oportunidade de emprego. Ora, se a empresa nunca contratou jovens com filhos, não sabia se, de fato, os filhos traziam empecilhos aos empregados. Bem, os tantos questionamentos e persuasões, surtiram efeito. Camila conseguiu o emprego!

Era sexta, o início era na segunda. Camila foi pra casa feliz da vida. Separou os documentos pedidos pelo setor de RH, comprou duas calças novas e ligou para o maridão. Estava ansiosa e não via à hora de começar no novo trabalho. Passou-se o fim de semana e a segunda amanheceu. Camila acordou as seis, já que entraria as nove e dependia de três conduções. Tomou banho, se trocou, aprontou um ligeiro café e, antes de sair, resolveu dar um beijo nas crianças. Foi então que percebeu, sua filha mais nova queimava em febre. Com o beijo da mãe, a menina despertou chorando muito. Camila então ligou no trabalho dizendo que não poderia ir.