sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

Bom princípio.

Quando criança, costumava pedir aos meus familiares mais velhos um trocado no fim do ano, o conhecido: “Bom princípio de ano novo”. Isso está na cultura popular, faz parte de uma tradição enraizada nos mais diversos lugares. Com o passar do tempo, este costume se perdeu. Hoje em dia, não vejo no réveillon as crianças gritando e pedindo para todos: - “Bom princípio de ano novo, bom princípio de ano novo”.

Creio que deveríamos reviver este feito de infância. Bater na porta dos vizinhos? Pedir dinheiro para os tios do interior? Não! Deveríamos pedir bom princípio de ano novo para tipos como: Deputados mensaleiros, irmos ao portão aqueles juízes, pedir um real para os pastores daquela igreja, ou que tal, para aqueles tais publicitários? Opções é o que não nos faltam, em cada cidade têm um membro atuante desta corja.

Porém, se este trocado não vier dos bolsos desses caros, poderíamos caminhar por outra via e não contribuir com eles nas próximas eleições, não sermos mais dizimistas. Isso é pecado? Acredito que perjura maior à fé e ao ato de ser cidadão, é ficar omisso com essa tal situação.

Afinal, só pediremos um simples cum-quibus (como dizia meus avôs), fazer renascer uma velha brincadeira popular. Se eles nos tiram o ano todo, por que não devolverem na virada? Não é piada! Só queremos isso e mais nada.

De repente.

O Pierrot sempre buscou o beijo da colombina.
O Pierrot sempre buscou o beijo da colombina.

Porém, ela só queria o amor de arlequim.
Porém, ela só queria o amor de arlequim.

Ele um dia se cansou e conheceu a Catarina.
Ele um dia se cansou e conheceu a Catarina.

Mas, depois da meia-noite ela virou Joaquim.
Mas, depois da meia-noite ela virou Joaquim.


Hoje em dia o Pierrot vive jogado na sarjeta.
Hoje em dia o Pierrot vive jogado na sarjeta.

Desgostou-se da vida, vive sem eira nem beira.
Desgostou-se da vida, vive sem eira nem beira.

Começou a beber, deixou de ser um careta.
Começou a beber, deixou de ser um careta.

Seu combustível é o vício. Vive fazendo besteira.
Seu combustível é o vício. Vive fazendo besteira.


(HOMENAGEM AOS CANCIONEIROS REPENTISTAS E AS MARCHINHAS DE CARNAVAL)

Filosofia de botequim - Parte III – O Fulano.

Ficarei disfarçado até descobrirem quem sou. Por enquanto serei o cigano na avenida. A criança no farol. O dono do bar da esquina. O pedinte com a ferida exposta. Serei o carteiro de seu bairro. Ou até, aquele que esbarra em você na multidão. Sou quem lhe dá o assento no ônibus. Serei a mulher que lhe vende balas-de-goma na estação. Posso até ser o cego, o mendigo, o aleijado.

Baterei palma no seu portão para pregar uma religião. Serei o bêbado que gritará na calçada para chamar a atenção. Tocarei sua campainha, sairei correndo. Venderei pamonha, queijo-de-minas, trocarei bateria-de-carro usada por maçã-do-amor.

Serei o gari que varre o centro da sua cidade. Serei o tal “bigode”, o conhecido “chefia”, daquele restaurante. O porteiro do seu prédio. Passarei de moto toda madrugada, em frente sua casa, tocando um sinal de alerta. Chamo-lhe pelo nome, mas ao atender sua porta, não estarei lá. Quem eu sou? Qual meu nome? Será Zé? João? Maria? Mané? Você sabe quem eu sou, mas não me conhece. Você votou em mim na ultima eleição.

Eu sou você quando não sou eu e quando sou eu, você não me reconhece. Sou o acaso, o outro, o ladrão. Alguém que lhe ajuda com as sacolas. Lhe passo troco no guichê, você não me nota. Eu cuspo do alto da sacada. Vendo-lhe o jornal. Monto seus moveis. Conserto sua casa. Freqüento sua igreja, lhe dou a paz, mas ao passar do meu lado, você diz: - “Conheço esse rapaz?”

Quando você me notar, não se lembrará do meu nome e nem de onde me conhece. Sou seu vizinho chato, o motorista de taxi. Ah! Vê se me esquece. Não sou ninguém importante, sou um mero ambulante. No filme que você for protagonista, serei um figurante, quisá, um coadjuvante.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

Anti-horário.

Uma das coisas de que tomamos consciência, quando nos tornamos conscientes, é a passagem do tempo.

Para a grande maioria o tempo é o fator mais preocupante, desde a hora que acordamos até à hora de irmos para cama. Dedicamos diariamente nossos anseios em relação ao tempo. O que farei hoje? Será que dará tempo? Que horas são? Quantos minutos me restam? Nossa, quanto tempo faz que não lhe vejo? Tudo no seu tempo. É tempo de mudanças!

Nos preocupamos e nos organizamos só para administrar a passagem do tempo. Temos que gastá-lo sem desperdício, pois tempo é dinheiro! Não é isso que diz o ditado?

Fazemos tudo isso em virtude do senhor tempo. Tempo este que mais cedo ou mais tarde colocará filhos em nossas vidas, netos em nossos colos e rugas em nossos olhos.

Mas, porque controlamos tanto o nosso tempo? Ele passará, não tem jeito. Nem o movimento rotatório da Terra é tão exato. Porque o nosso tempo tem que ser? É engraçado quando dizem que ultimamente o tempo está passando rápido demais. Creio que desde quando ele é medido da forma que conhecemos, todo minuto têm sessenta segundos, toda hora tem sessenta minutos, os dias têm vinte e quatro horas, as semanas têm sete dias, e por aí vai.

Felizmente, o tempo passa e a vida se torna cada vez mais prática, pois é só com o passar do tempo que adquirimos experiência e bons papos pra jogar fora numa rodinha de amigos.


Na verdade, transformar pequenas ocasiões em momentos eternos é o segredo do tempo. O tempo pára no instante que estamos fazendo algo especial. Como em nossas vidas corridas o tempo é algo tão raro, devemos eternizar e valorizar esses momentos únicos.


O tempo está em tudo e não pára de passar. Está passando enquanto falo e passará mesmo se eu me calar.

Bem, sabendo que temos como aliado esse extraordinário personagem das nossas vidas, busquei usá-lo como fator principal e pará-lo, para tornar momentos raros do nosso cotidiano – como este – em momentos únicos. Tornar possível aquele velho desejo de congelar tudo e todos para aproveitarmos um instante exclusivo e incomparável. Agora se delicie com este momento, aproveite cada uma de suas loucuras, viva com mais intensidade e pare seu tempo após está leitura.

domingo, 9 de dezembro de 2007

O início.

Está dentro do meu peito e fora do meu controle. Tem um que de poesia moderna misturada com distorções de guitarra.

Está no alto e ao mesmo tempo perto de mim. Explicar? Não precisa, nota-se no meu olhar, na minha feição, na minha pele, nessa canção. Estado eterno de felicidade.


Ao cair da noite sinto o seu perfume, ao amanhecer lembro-me do seu beijo e passo o resto do dia pensando no seu jeito, no seu sorriso. Ah! Que sorriso. Um olhar doce e profundo que atravessa minh’alma e atinge o que tenho de mais puro e verdadeiro.


Essas frases soltas não traduzem o que tenho a dizer. Se realmente quer saber, basta olhar-me e notará um alguém radiando luz, exalando alegria, com sorriso frouxo e com vontade de viver eternamente. Pois, está dentro do meu peito e fora do meu controle.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

O que você quer conquistar?

Será um sorriso? Dormir até tarde? O carro dos sonhos? Ou simplesmente vencer?
A felicidade? Aquela vontade? Matar a sede? Sentir o prazer?

Se espreguiçar depois do almoço? Um beijo no pescoço? Coçar as costas? Ver o dia nascer?
Tirar o sapato apertado? O vento na cara? Uma surpresa ao anoitecer?

Andar descalço? Sentar em um trem lotado? Ou somente crescer?
Profissionalmente? Em casa? Nos estudos? Em você?

Enfim, o que você quer conquistar? Pode ser único ou clichê.
Indiferente pra mim, mas especial pra você.

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Olhares sobranceiros.

Um dia me disseram que todos deveriam ter o direito de voar. Pelo menos uma vez, pairar no ar.

Descreveram-me essa sensação com brilho nos olhos, dava pra ver o sentimento saltando dos poros e a fala cheia de emoção.

Tudo era poesia. Ouviam-se cantos em cada canto. Uma seresta em todas as arestas. Melodias oitavadas e acordes dedilhados. Tudo era festa.

Pelo menos uma vez todos deveriam voar. Afirmaram-me com um certo brilho no olhar.

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Um quarto.

Hoje acordei com um aperto no peito, espantado com minha aparência abatida.

Pensativo. Andando de um lado para o outro, percebi como meu quarto é pequeno, porém, quente e aconchegante. O teto é baixo, próximo das minhas idéias malucas, distante das minhas ambições.
Passos rápidos, observando o tempo passar. Cadência. Meu caminhar, no ritmo do ponteiro. Minha angústia, imensurável.

“Alô, quem fala? Não, não tem ninguém com esse nome”.

Soprando meu café amargo, me preparo para sair. Olho na janela, só vejo garoa. Sempre saiu de casa com a impressão de estar esquecendo algo. Acho que estou esquecendo minha capacidade de gritar, esqueci o gosto do seu beijo, não lembro onde coloquei minhas meias preferidas. Perdi meus óculos. Não consigo encontrar minha vontade de revolucionar. Será que é o seu desdém que faz isso comigo? Ou será que estou assim por ter perdido minhas chaves?
Indiferente. Lembranças. Entre seus dedos, um cigarro. Entre meus lábios, um sorriso. Apático.

“Bom dia. Sim, o ônibus acabou de passar”.

Voz rouca. Assoviando uma canção que não sei o nome, não sei quem canta. Meu pai acostumava assoviá-la.

Vi-me no reflexo da vitrine, estou ótimo. Nada como um café. Nada como um reflexo de vitrine.

Porta giratória. Ascensorista. “Bom dia” formal, na seqüência um “tudo bem”, “então tá ótimo, “graças a Deus” pra não perder o costume, pra não ser tachado de prepotente.
Essa música me anima. Faz-me lembrar a infância. Não sei o nome, não sei quem canta. Mas, eu gosto. Me anima. Acho que as rádios programam os horários que as músicas passam, pois, esta música sempre toca este horário, sempre nesse dia.

Bem, é isso. Abrirei minhas gavetas. Checarei minhas obrigações. Iniciarei meus afazeres. Tocarei o dia. Pois, só passou um quarto da minha rotina.

sábado, 27 de outubro de 2007

Dois pra lá, dois pra cá.

Laércio lá estava. Louco, lelé da cuca. Bebeu latas e latas, lamentou toda muvuca.

Caíque caiu de quatro, quando bebeu cachaça. Quando caiu em si, viu o tamanho da desgraça.

Lá estava Laércio, inércio, louco varrido. Bebeu até cair, mas, ajudou o seu amigo.

Eram quatro horas e Caíque estava caído. Caído Caíque estava, querendo mais quatro, era só o que faltava.

Lamento, caro Laércio, lá era um lugar de velho. Lá tinha tantas latinhas que tiraram Caíque do sério.

Desembainhar.

Se cada dia é uma batalha, qual das minhas armaduras vestirei? A armadura da revolta, da indiferença, da loucura, a armadura da impunidade, da insegurança, ou até mesmo, uma armadura que me torne invisível? Irei de peito aberto ou protegido?

Acho que sairei armado. Armado de uma espada, de balas-de-aço, com os punhos cerrados, armado de boas idéias, carregado de atitudes, com flores, com pedras? Estou de braços atados. Talvez não saia. Será que a clausura é a melhor alternativa?

Enfrentarei meus medos e sairei sem receio, apontarei os culpados e, se eu for um deles, colocarei minha cabeça a prêmio.

Tupiniquim.

Entendo, vocês terão que manter a tal reputação. Criticas fazem parte de seu discurso engajado. “Odeio o brega!” – Eles gritam. Mal sabem que Cauby (Este mesmo, o da “Conceição”) foi que, pela primeira vez, gritou “Rock n’ roll!” no Brasil.

Eles criticam o samba, mal sabem eles que antes de suas posições políticas e de serem considerados os marginais e a escória, o malandro era do morro e fazia arte em forma de protesto.

Entendo, vocês terão que manter a tal reputação. Há também, aqueles que estão do outro lado, criticando esses que os criticam. Auto lá! Se não fossem esses loucos e suas distorções (que vocês consideram drogados e rebeldes) talvez, ainda estaríamos de baixo das asas de uma repressão.

Mas, o que é engraçado, é a união de todos vocês para apontar lá pra cima. Falam do sotaque e, até mesmo, da falta de cultura. Deve ser piada. Vocês precisam dançar. De preferência um coco-de-roda, um frevo, ou talvez, um maracatu. Melhor, precisam ler cordel.

Na verdade, vocês necessitam de uma boa e cavalada dose de Brasil.

domingo, 21 de outubro de 2007

Partido alto.

É Noel, sua pergunta fica mais difícil quando se está desmotivado. Abri meu guarda-roupas e não vi nada que poderia fazer eu me sentir bem. A que ponto cheguei? Meu bem-estar se resumiu em uma camisa, uma velha calça... Mas, basta um elogio de algum estranho pra mudar a situação do meu ego. Posso até me inspirar no Travis Bickle, contudo, não a tal ponto:

- Está falando Comigo? Está falando comigo? Falando comigo? Então com quem está falando? É comigo? Só eu estou aqui. Com quem acha que está falando, porra? Ah é? Tudo bem. Que? Ah, minha roupa, obrigado, peguei a primeira que vi.

Ao viver neste caos urbano, raramente você se livra de um distúrbio psicológico e um desequilíbrio emocional se torna um fato. O coração e a cabeça são fracos. Isso pode lhe transformar, surpreendentemente, de um “futuro assassino do presidente” a um “herói nacional”. E o fato de ser um paranóico se torna relevante. Mas, pra acontecer isso, ande com fé, ela não costuma falhar.

Nunca gostei de escrever um diário, sempre achei uma coisa feminina demais, prefiro rabiscar nesses velhos guardanapos de botequim, jogá-los no fundo de uma gaveta e reavê-los com o passar do tempo.

Esses dias me peguei pensando no que ela disse: “Vou jogar fora, são apenas velhas cartas e fotos amareladas”. Daí, percebi que era o fim. Mas, ali da janela eu não pude gritar, só achei que poderia ler seus pensamentos e, de alguma forma, interferir em suas decisões. Porém, não foi o que aconteceu. Simplesmente, fui testemunha ocular da minha própria destruição.

Quando ela bateu as mãos uma na outra, como sinal de “pronto! Terminei o que tinha de ser feito”, não estava só limpando suas mãos, de pele macia, estava me varrendo de sua vida. Percebi que era melhor eu me cuidar, pra não ter mais o coração partido em dois.

Lá do alto, pendurado no beiral da janela, vi meus olhos refletidos no vidro e, em prantos, vi os olhos dela. Naquele momento, decidi que rumo deveria tomar, percebi que nunca fiz por merecer, soltei meus dedos devagar e parti com a roupa do corpo, sem dinheiro no bolso, sem chão, sem nada. Hoje estou aqui. Prazer, meu nome é solidão e o seu?

domingo, 14 de outubro de 2007

São Paulo de Piratininga.

Onde você encontra as mais diversas personas. Os tipos mais diferentes: trabalhadores, religiosos, artista, crianças, estudantes, travestis, idosos, intelectuais, boêmios, enfim, difundidos pelo concreto estressante de uma megalópole.

A vida urbana, o corre-corre, a madrugada, forte relação econômica e intensos fluxos de pessoas. Este é o lugar que eu escolhi pra viver (e pra morrer), pra ter meus filhos. A capital da moda, da arte, da cultura e da contracultura, da música, capital da garoa, espírito libertário e acolhedor, o coração do Brasil. Amo-te, São Paulo.

sábado, 13 de outubro de 2007

Não tenha medo.

Por uma vida mais insana. Não tenha medo. Pare de curtir sua, sempre presente, depressão. Tenha mais porres, sem que terminem em profunda melancolia.

Às vezes, a vida é mais do que apenas viver. Por isso, não caminhe, corra, ou então você ficará para trás. Receio da madrugada? Por quê? Só encontraremos aqueles com as mesmas intenções que as nossas. Não tenha medo.

Segure minha mão e aproveite. Eles estão dormindo e, enquanto eles dormem, podemos tudo. Não tenha medo. Olhe nos meus olhos. Ouça a música. Se depare com os personagens que lhe compõe. Corra!

segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Inquietação.

Como nos livrar do sentimento de culpa? Como arrancar do peito a angústia do erro? Ter a consciência de um ato errôneo torna-o mais errado? Como evitar este mal inevitável?

Não posso ser omisso, não quero e não tenho este direito. Não pretendo ter o fim igual aos dos meus heróis e, tampouco, aliar-me aos meus inimigos. Prefiro a morte. A morte é algo que não temo mais. Só temo a dor que ela possa me proporcionar. Só.

Não busco respostas obvias. Antes um soco do que um afago. Afinal, não o mereço. Essa inquietação me deixa a beira da loucura. Porém, nunca tive o conhecimento da linha da sanidade.

Não me venha com perguntas. O que eu quero são respostas. Como me livrarei de você? Não, não digas nada, pois, já suponho o que dirás.

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Ligação local.

- Alô, Rita?


- Quem é?


- É a Amanda, Querida. Tava com vergonha de te ligar, mas, tinha que lhe falar que ontem foi maravilhoso. Percebi que era sua primeira vez também, mas, deixei as coisas acontecerem. No inicio foi estranho, eu estava nervosa, nunca me imaginei com outra mulher. Mas, por sermos muito amigas, até que foi divertido, né? Vamos repetir essa brincadeira quando?


- Que bom que você gostou, mas, aqui não tem nenhuma Rita.


- Desculpa, foi engano.

Me vê o de sempre, no capricho.

Em um restaurante, Beto e Ricardo discutiam sobre suas preferências. Comer arroz com feijão ou feijão com arroz?

- Eu prefiro Arroz com feijão. É bem melhor colocar o feijão por cima, dá pra misturar melhor, a comida fica mais molhadinha. Disse Beto.


- Você me faz rir. Se espalhar o feijão no fundo do prato e colocar o arroz por cima, a mistura fica bem mais fácil e muito mais saborosa, vai por mim. Responde Ricardo.


- Tá bom, chega de papo furado. O garçom está esperando os nossos pedidos, o que vai querer?


- Oi, me vê o de sempre. Aquele strogonoff, ok?


- O meu também é o de sempre. Uma lasanha, no capricho.

Indecisão.

Era tarde, elas conversavam há horas. Admirando-se e transmitindo, com fortes abraços, o calor do corpo de uma para outra. As mãos suavam frio e a insegurança tomava conta de ambas:


- Sempre achei lindo os seus olhos. Desde a primeira vez que os vi, me passa uma paz. Sua pele também é bela e tem uma suavidade sem igual.


- Seu cabelo é tão macio e bem perfumado, sua boca é bem contornada e, quando você a umedece com a língua depois de falar, me deixa com certa inveja de não ter nascido com uma boca igual a tua.


- Você diz isso só pra me deixar feliz.


- Você é linda, alta, tem um jeito encantador. Quando me acaricia com as pontas dos dedos me deixa nas nuvens.


- Eu gosto do seu beijo, do jeito que fala comigo e da forma que olha nos meus olhos.


- O mundo pode me tirar tudo, mas, não pode tirar você de mim, nunca.


- Fique tranqüila, pois, sempre estarei por perto, sempre. Já é tarde agora vá dormir que amanhã é um grande dia. Quando o juiz assinar aqueles papéis, serei a mulher mais feliz do mundo.


- Eu também, mãe. Boa noite.Te amo.

terça-feira, 18 de setembro de 2007

A saideira.

Ao fundo, ouvíamos os improvisos virtuosos do piano de Bill Evans, misturado aos murmurinhos dos intelectualóides que freqüentam o bar. Eu, com vários uísques virados, esperava a conta juntamente com meu irmão, Otavio:

- Meu querido! – Gritou meu irmão – pode, por obséquio, agilizar esta conta?

- Só cinco minutinhos, senhor! – Respondera o garçom.

Otavio olhou as horas em seu relógio, a fim de marcar os minutos pedidos pelo garçom.

Continuávamos nosso papo sobre minha separação, falava ao meu irmão que Gabriela quisera o divórcio. Ele me aconselhou a providenciar rapidamente este processo. Porém, apesar de ser meu irmão, tenho que levar em consideração sua situação nada estável com Ruth, refletir muito bem sobre os seus conselhos.

Pronto. Terminei meu ultimo drinque e Otavio também, só faltava acertarmos a conta para irmos embora.

Meu irmão se levantou e chamou o garçom novamente, que lhe acenou pedindo para esperar um pouco mais. Otavio apanhou seu chapéu e seu paletó e começou a caminhar em direção da saída. Eu, sem entender o gesto do meu irmão, deixei o dinheiro na mesa e fui atrás dele:

- Você está maluco, Otavio?

- Por quê? – Respondera ele.

- Como assim? O Garçom pede pra você esperar e você vai embora sem pagar?

- Dei os minutos que ele me pediu. Não me neguei em pagar, ele que não fez questão de receber. Vai, vamos embora. Já estou bêbado, era este meu objetivo. Vamos!

Filosofia de botequim - Parte II – O som do silêncio.

Também dá pra se ouvir o silêncio. Como distinguir o som e o silêncio?

Da mesma forma que o preto é a ausência de cor e mesmo assim conseguimos vê-lo, o silêncio é a ausência do som.

Podemos ouvir diversas coisas no silêncio. Ouvimos a batida do coração, os ruídos da noite, o assoviar do vento, etecetera.

E, antes de todo grande barulho, há um momento de silêncio absoluto. Antes de uma bomba explodir, antes de um gemido de orgasmo, antes do bater da batuta de um maestro, antes do choro de uma criança ao nascer.

Também existe o instante de silêncio que encerra um grande barulho. Depois do encerramento de um espetáculo, a platéia fica por um pequeno instante em silêncio total de admiração e, em seguida, dispara seus aplausos. Depois do soar do sino, os fiéis ficam extremamente calados e, só a seguir, dizem amém.

Antes de você discordar, ou até mesmo, concordar com o que acabou de ler, ficará em silêncio por algum instante também.

sábado, 15 de setembro de 2007

Extraordinariamente: Nota de existência.

- Vi que era indispensável mencionar a idéia que fez passar a existir este blog.

O blog MEIO PAU retrata a banalidade do cotidiano, torna todas aquelas crises existenciais em humor, acredita que a monotonia da rotina permite transformar a vida em algo mais insano e criativo, dando ritmo ao dia-a-dia.

O blog MEIO PAU surgiu da pretensão de revelar um fluxo peculiar do pensamento crítico, contra-cultura, do humor, da reflexão e da forma de sentir.

Traduzindo em palavras coisas corriqueiras, transformando banalidade em estrofes e vulgaridade em música aos ouvidos.Utiliza como ferramenta um humor crítico, guerrilha poética, narrativas do cotidiano, resistência cultural, crônicas sarcásticas, textos insanos e etecetera.

Se você gostou, divulgue. Não gostou? Difame.

LEIA!

Pois, ler não engorda e faz crescer.

terça-feira, 11 de setembro de 2007

O canto do mendigo.

O meu cobertor é um jornal rasgado.

Meu colchão é só um papelão furado.

Vivo por aí pedindo um trocado.

Sem eira nem beira, com meu cão do lado.


Ainda assim, vivo sendo julgado.

Tudo que eu queria é ser um ser alado.

Voar por aí não sendo reparado.

E sempre cantando, com meu cão do lado.

quarta-feira, 5 de setembro de 2007

A cegueira.

O ser humano carrega consigo a pior doença de sua espécie. A cegueira.

A cegueira da alma, a cegueira intelectual, a cegueira das bibliotecas, dos executivos, dos políticos, dos letrados.

Cegueira qual, não encontramos no povo.

Na Dona Maria, que depois que seu marido morreu de gota, teve que tirar forças e alimento da terra, para dar aos seus filhos o que comer.

E seu João e seu José, que saíram com suas famílias atrás de melhoria e só encontraram ilusão.

Mas, em todos eles, não encontramos essa tal cegueira que deixa todos vendados para as coisas simples da vida.

Que cega o peito, os olhos, o respeito pelo outro.

Arranca da cara toda essa farsa, tira a máscara da intelectualidade e busque na simplicidade a verdade para viver.

Aprenda com a Dona Maria, com seu José e seu João, que a vida é sofrida para quem não vive no que acredita. Para quem busca a solidão.

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Nada.

Reescrevo o que já li, pois, sei que tudo já foi dito.

Acrescento alguns pontos em cada conto que edito.

Coloco sinônimos e outros adjetivos em tudo que escrevo, em tudo que recito.

Concordo que tudo já foi escrito, mas, se eu não escrevi, tenho que dar minha versão no recinto.

Então, se eu não escrevi, não sinto. Se não senti, não foi escrito e tenho dito.

sábado, 1 de setembro de 2007

Ziguezagueando.

Ela veio sem graça e me disse: “qual sua graça?” e eu fui me apresentando.

Quando veio com graça, eu pensei “o que se passa?” e fui me aproximando.


Logo dei um abraço, me senti no espaço, ziguezagueando.

Desconcertei seu passo, deixou cair o laço e foi se apaixonando.


É bem assim que acontece quando a gente esquece tudo que é ruim.

Há quem diz que amar é faca de dois gumes, pode ser, não para mim.

quarta-feira, 29 de agosto de 2007

Tudo.

Procuro nos clichês, algo diferente pra impressionar-te.

Vejo algo novo, lembro que estou vendo de novo.

Tudo já foi escrito.

Tento reescrever só pra envolver-te.

Mas, toda forma, manifestação, palavra, prosa, rima, canção, poesia e adaptação, já foi dito.

De uma forma diferente, com outros pontos, vírgulas e enfeites.

Tudo já foi escrito.

Do arcaico ao contemporâneo, com pronomes e outros adjetivos.

Isso é clichê, mas, soa bonito. O que eu tenho haver, se isso já foi dito?

terça-feira, 28 de agosto de 2007

Filosofia de botequim - Parte I – A semelhança do diferente.

Andar a pé. Rir quando está sozinho. Tropeçar e fingir que nada aconteceu. Ter a horrível sensação de estar esquecendo algo – mesmo não esquecendo nada – ou, até mesmo, lembrar o que esqueceu no meio do caminho.

Pensar alto. Achar que aquelas pessoas do outro lado da rua estão rindo de você. Gritar “passa!” para um cão raivoso. Não levar o guarda-chuva. Esquecer as chaves e chamar alguém pra abrir o portão. Pular o muro.

Não conseguir segurar o riso em momentos errados. Inventar uma história como desculpa pelo atraso. Chegar na hora marcada e ficar puto com quem te deixou esperando. Reparar no jeito de andar das pessoas, nas roupas, nos cabelos. Sempre ter que desviar para não esbarrar em alguém na multidão. Sem esquecer-se da velha sensação: “Nossa, eu deveria ter falado isso”. Ou até mesmo: “Porque eu não pensei isso na hora?”.

No carro, colocar o cinto só depois de partir ou nem por. Parar no farol e olhar os olhos e o nariz no retrovisor. Cantar alto e ficar com vergonha ao ver que a pessoa do carro ao lado reparou em você. Trancar o carro com a chave dentro. Sem combustível, ver o ponteiro da gasolina colado e rezar pra chegar ao destino, antes disso, passar por vários postos de gasolinas fechados. Lavar o carro e depois de terminar, reparar que ficou sujo em algum lugar, ou então, deixar o carro impecável para sair à noite e se deparar com um temporal.

Se você é desses que briga com alguém por algum erro e depois de um tempo se pega fazendo a mesma coisa, faz promessa e não cumpre ou é daqueles que se considera uma pessoa difícil de entender, uma pessoa inconstante. Avalia-se como, diferente do resto do mundo. Parabéns! Você é igual a todos nós.

Fotografar.

Fotografar não é viver, como um mero espectador acovardado, uma realidade que está diante de nós, fora de mim que estou do lado de cá, num ângulo de visão que me torna um individuo ausente à realidade.

Fotografar é opinar, como pessoa, como indivíduo integrado no mundo em torno de mim. Fotografar é sangrar a consciência do mundo para ele mesmo.

Deste modo, fotografar, é igual a toda arte, é pura sensualidade, é excitante. Ligando-nos entre os acontecimentos e os seres, fazendo-nos maiores, buscando as nossas verdades esquecidas e, acima de tudo, registrando o que os olhos do mundo não vêem e/ou não querem enxergar.

Chega de bórógódó.

A lei do mundo é uma só. Tanto pobre quanto rico acaba virando pó.

Tanta gente nesse mundo que dá pena. Não tem dó.

Vive no corre-corre, procurando qüiproquó.

Mas, em verdade eu voz digo, está escrito em Jacó.

Homem que ama a vida, não só pensa em rapariga, não quer saber de intriga. Pois, assim ficará só.

segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Sem sinestesia para eu sentir seus olhos quentes.

Precisava de um verbo transitivo um pouco mais direto, quando você ligou a ação daquele tal sujeito, todo pomposo e composto, com meu coração.

Não me venha com complementos verbais. Pois, não sou subordinado a essa condição.
Tento reger minha vida sem você, não preciso de concordância de ninguém.

Não sou facultativo, só tenho adjetivo oriundo pra empregar em você.

Desculpe minha ortografia, é que não tenho leitura, não sei o que é ditongo depois desse tombo. Não sou herói pra ninguém.

Não trema ao ler, agüente. Não se sinta negativa.

Contudo, afirmo que meu particípio causou-lhe algo, nada figurado. Mesmo estando ligada a esse tal sujeito, que não é nada simples.