Tenho forte ligação com a minha infância e todos os elementos que a compõe. Ficava na rua o dia todo. Naquela época, o relógio era, somente, um objeto pendurado na parede da cozinha, que fazia tic-tac no silêncio da noite. Infância querida. Creio que minha geração foi à última a ter o prazer de jogar bola em campinhos de terra, brincar descalço sem medo de tétano, brigar por nada (que parecia tudo), sentir-se feliz por andar de trem, enfim, um pouco de saudosismo não faz mal a ninguém.
Eu tive uma infância mágica. Tão pura que, acho curioso o dia-a-dia das crianças de hoje. Gostaria que meus filhos tivessem uma infância igual a minha. Queria que o tempo passasse mais lento. Que os sentimentos não mudassem com o vento. Que as pessoas não morressem. Que minha amada conhecesse meus avós. Que as rugas só aparecessem na hora do banho.
No meu tempo, as coisas eram mais intensas. Fotografias eram reveladas, álbuns emboloravam. Observava meu pai, furioso com as partidas do Corinthians. Tinha eu que, fazer as lições de casa para comer bolachas recheadas. Sem microondas, minha mãe cozinhava. Pesquisas eram feitas na biblioteca. Ria quando meus irmãos apanhavam e, por isso, apanhava também. Porém, a gente defendia um ao outro. Era o mundo contra a gente. Era a gente contra todos. Amigos, amigos, o futuro a parte. Hoje falta amor e cumplicidade. Sobra inveja e competitividade.
Hoje, falta tudo. Faltam crianças para brincar. Árvores para trepar. Faltam programas educativos na televisão. Faltam gibis e revista para colorir. Faltam piolhos e gozação. Faltam motivos para sorrir. Mas, do que adianta se lamentar? O mundo, qualquer hora dessas, irá acabar! Infância querida. Até esqueço que sofria de asma. Que passava dias no hospital. Que vi pessoas amadas partindo, sem eu entender o porque. Até esqueço de mim, esqueço de você. Não sei como irei morrer, tampouco a idade. Contudo, a forma mais lenta e dolorosa, deve ser morrer de saudade.
37 comentários:
Lindo!
Pois é, tive um infância como a sua... meus sobrinhos já não têm a mesma sorte – medo de brincar na rua, de ter uma nova virose da moda, de bandidos oferecendo balinhas nada inocentes, de motoristas imprudentes e de pedófilos dementes... - Saudade daquele tempo, de tomar banho de chuva e brincar de fazer represas com o barro na calçada e a água que descia no meio fio, de jogar taco, queima e bolinhas de gude. De um tempo em que pessoas eram (e precisavam ser) só pessoas que se ajudavam mutuamente... Será que ainda dá tempo???
PS. Adorei a visita ao blog!! Volte sempre.
Bons tempos. Ainda tenho uma bola de leite, que, de vez em quando, fico chutando na parede.
Ainda rodo pião. Ganhei um do Thiago, amigo nosso.
Até hoje brinco de iô-iô. E faço a cordinha. Com linha de costura.
Mas o mais legal aconteceu há uns dias.
Ensinei um garoto a jogar bolinha de gude. Ele aprendeu rápido. Depois de um tempo achou um saco. Mas aqueles minutos fizeram o meu dia...
Belo texto.
Profundo. Sei que são outras épocas, mas sofro de uma nostalgia absurda e não consigo me acostumar com a vida que levamos hj em dia..
Mas então, o meu feriado só não foi melhor porque aqui no Rio choveu todos os dias, por isso que encarar a Terça feira ao lado dessa gentinha do trablho é de deixar qq um FARTO!!
Saudade do tempos que não voltam...
bjs
Profundo. Sei que são outras épocas, mas sofro de uma nostalgia absurda e não consigo me acostumar com a vida que levamos hj em dia..
Mas então, o meu feriado só não foi melhor porque aqui no Rio choveu todos os dias, por isso que encarar a Terça feira ao lado dessa gentinha do trablho é de deixar qq um FARTO!!
Saudade do tempos que não voltam...
bjs
Tá aí, de tudo o que li este é o que mais amei. Muito, mas muuuuuuuito bem escrito. Não tive asma (sinto muito), não fiquei horas no hospital mas parecia eu aí.
Dá saudades mesmo, nunca parei pra pensar mas era mais intenso.
Muito bom, parabéns.
é, a nossa infância foi boa. com certeza a última geração que aproveitou de verdade os pequenos prazeres da vida.
mas eu acredito que ainda podemos passar pras gerações futuras a essência da coisa. claro que meu filho não vai rodar pião, muito menos jogar fubeca, nem bater bafo.
mas passaremos a eles a essência do tempo, para que ele não sinta essa saudade de algo que não viveu... porque só isso consegue ser pior do que morrer de saudade.
Magnífico Thiago...o texto revela sua alma como se fosse a do leitor...imposível não se identificar...saudade da casa da vó...de seus cuidados comigo...bons tempos vivemos...será a "última infância feliz" ??
Que lindo!!!me fez voar para bem longe nos meus cinco anos,o cheiro do leite em pó que eu não dormia sem, hoje eu odeio, das brincadeiras com lama, de quando meu irmão brincava comigo, quando deitavamos em uma cama de solteiro minha mãe, meu irmão e eu, do prazer de ir ao centro fazer as compras de final de ano.A vida é uma renovação, sentimos saudades das coisas que hoje não gostamos,mas porque hoje, temos coisas novas para gostar.
Thi Amo
Minha infância não foi muito diferente. Creio que temos a mesma idade,ou estamos na mesma faixa.
O que percebo é que hoje a sociedade parece viver uma transição,uma mudança de valores.
Não consigo entender certos códigos, certas posturas. Não consigo ver a infância. As crianças amadureceram e junto com elas muita coisa se perdeu.
Eu tb cheguei a fazer algumas coisas como jogar bola em campinhos de terra, enfim, eu lembro ainda que na casa da minha avó tinha um relógio que batia tic tac tic tac, era maior barato, de hora em hora fazia um barulho estranho que nos acordavam!
Abraço
Tudo que vivemos na infância chegava a mexer com a nossa imaginação. Hoje as crianças tem experimentado outras sensações, não diremos piores que as nossas! Mas diferentes e difíceis de agente entender em princípio...
Noss, já to me achando um velho, kkkkkkk
Ótima quinta!
Faltou mesmo, eu tava quase dormindo de sono daí tive que parar o post! kkk
Um texto perfeito!
eae grande....
poww fazia tempo que nao escrevia em blog e nem paseava por aqui hehe
ta bom o texto
amanha eu to devolta com o meu
passa la
abraço
Obrigado por todos os comentários,
estou cansado hoje, senão escreveria mais!
òtima sexta amanhaã!
Disse tudo, e eu que ouvi dizer que o Obama traria as tropas de volta...
Ótimo fim de semana!
Abraço
Puramente brilhante e poético, mas a NOSTALGIA reina, em absoluto, entre suas linhas literárias - muito bem desenvolvidas, meu caro.
É como poder vivenciar, junto contigo, cada momento e sensação!
Parabéns pelo blog, já te sigo, bem de perto.
www.apimentario.blogspot.com
(jornalismo literário)
www.bonequinhodeluxo.com
(literatura erotica)
www.incensurados.blogspot.com
(diários intimos)
E como tá sendo a semana!?
;D
Olá!
Um maravilhoso dia.
Melhor que o meu que tomei café demais e estou meio que passando mal, kkk.
Ótimo dia!
É muito triste, porque era uma menina tão feliz.
Que família mais iluminada né.
Rs..............então é só o vídeo, infelizmente to querendo muito o convite e esperando, se tiver por favor hein?
Tem selo pra você no link:
http://www.balasalgada.net/2009/11/selos-thank-you-very-much.html
Beijão s2!
Eu tenho lembranças da minha infância e adolescência. Mas curto muito como estou posicionada, hoje, na minha vida. Gosto de como mudo as coisas, de como elas me modificam também. Enfim, estou bastante satisfeita.
Entretanto, reconheço o peso da mensagem do seu texto. Praticamente, um chamado, um apelo.
Percebo o quanto as pessoas estão condicionadas às situações. O quanto apenas reagem e reagem. E pouco escolhem e agem.
.
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Sabe, às vezes, dá uma vontade de brincar de rouba bandeira. Mas não encontro ninguém disposto a isto. rs rs rs
Um beijo,
Nostalgia.
Creio que será assim para sempre, a geração passada será "mais feliz" que a seguinte.
Gosto do relógio como simplesmente, apenas um objeto. Queria vê-lo assim até hoje. Tá cada dia mais difícil.
Boas palavras, muito bom encontrar boas coisas em uma tarde qualquer de segunda-feira.
daí friend, a minha infancia não foi ruim mas poxa querioa outra kkkkkkkkkkk
Reescrevo quase por adivinhação o que te respondi no meu blog.
Eu acredito que a mágica não existe fora, se nao estiver dentro. E tudo que é mágico de verdade, permanece. Permanecerá a infancia colorida e florida. É uma reliquia e no dia das mortes do mundo, até a pior agonizante de saudade, se a infacia tiver sido um riqueza, terá resgate e emoção, ai portanto não se morre. Eu costumo dizer que quando morrer quero virar cantiga pra me cantarem até o amanhecer e anoitecer, meus netos...quero ser cantiga pra que eles durmam e façam dormir ou acordar aos cheios de humanidade!
Eu me emocionei profundamente por ter só um objetivo na vida: virá canção de liberdade para os meus camaradas! Por estar montando um espetaculo sobre a infancia e por minha infancia ser o titulo do meu texto. Eu me emociono sempre com voce, é inevitavel essa preta vir aqui e nao sair toda vermelha, mas feliz. Vens a ser minha catarse!
Ótima quarta pra vc!!
Obrigado pelas visitas!
Nesta correria que vivemos nunca reparei o quanto perdi, e como a infância faz toda diferença para o futuro. Apesar de tudo isso, tenho a agradecer, pois com você e os amigos verdadeiros do meu irmão fizeram a minha infância, brincavam e cuidavam de mim. O quanto eu já sorri ao lado de vocês! Obrigado meu irmão por tudo o que faz por mim!
Parabéns, eu não conhecia este lado Thiago. Conhecimento aflorado, e essa sutileza com as palavras. MEU ORGULHO!
Olá. Como andam os preparativos para as festas de fim de ano?
Abração.
Muito Bom mesmo!!!
Cada vez mais estamos sem tempo pra nada...
Quando crianças queremos nos tornar logo adultos... quando adultos, queremos voltar a ser crianças...
Ficamos só na saudade... na época em que nossas preocuáções eram lições de casa e brincadeiras...
Bons Tempos!
Bom texto.
Passa lá: www.beycomm.blogspot.com
Abraço.
31 comentários! Agora, 32.
Parabéns.
Olá!!!
Boa noite, tudo bem?!
Que bom poder voltar aqui pra dizer que estava com saudades...
Posso entrar?!
Você tem sempre passagem livre no meu cantinho...fique a vontade!
Abraços ternos,
Poetíssima #
Eu queria que meus filhos tivessem a infância como a minha tbm: brincando na rua e não se escondendo em casa, brincando com tudo que é coleguinha ao invés de sozinho.
Mas cá entre nós, os tempos são outros. Quem, hj em dia, deixaria uma criança brincando sozinha na rua?
*ê nostalgia
Oi, Thiago!
Ultimamente ando usando um pouco do meu tempo para procurar bons blogs. E encontrei o seu.
Preciso ler mais, cheguei agora. Mas parei pra comentar nesse post pois achei uma coincidência (se é que isso existe) incrível!
Hoje mesmo passei um texto pra molecada da 5ª série do Drummond "Lembrança do mundo antigo" e o estudo do texto resultou na comparação da minha infância com a deles.
Muito do que vc escreveu aqui eu comentei em sala. Incluindo as "Pesquisas (que)eram feitas na biblioteca."
Biblioteca essa que nunca tinha máquina de xerox e a gente tinha que copiar páginas e páginas a lápis e depois passar a limpo em folhas de almaço.
Hoje nem sei se a biblioteca de Mauá (percebi que somos 'conterrâneos'!)ainda existe. A última notícia que tive dela era que funcionava no antigo 'shopinho'.
Se ainda existe, estou certa de que a máquina de xerox ainda não chegou por lá!
Mas hoje nossos pequenos têm o google, não é?
Até que ponto isso é bom é uma duvida que paira...
Bom, vou dar mais uma olhada por aqui. Abraço e passa lá no meu também quando puder.
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