O chão que prende a casa, a telha que cobre o lar
Em um dia quente, o sol ardia à pele e abrasava o asfalto. As pessoas se abanavam com as mãos ou com revistas velhas. Assopravam o colo pela gola, andando pelas sombras dos beirais de cada comércio do centro. Carregavam sacolas, caixas e sorrisos.
Minhas mãos ficaram secas, minha vista e meus lábios grudavam. Os pés cansados e as costas doloridas. O suor escorreu pelo canto de meu rosto, antes que eu sentisse seu sal, o sequei com a manga da camisa.
Cheguei em casa. O ventilador girava e girava, mas ventava pouco. Fazia um barulho estranho. Faltava óleo, sobrava poeira. Na geladeira, a garrafa d’água estava vazia. Porém, havia gelo em uma das formas no congelador.
Tomei um banho frio para congelar minha dor e me sequei com a brisa ambiente. Comi dois pedaços de pão sovado, mas não escovei os dentes. Deitei um pouco, sem pensar em nada.
Instantes depois, coloquei Coralina por cima de mim. Passei pelos primeiros capítulos, até a vista enturvar. Dormi.
Entre o muro e a hera, uma estátua de Primavera
Numa mata fechada, ouvia-se canto de pássaros e uma queda d’água. Procurei por algum espaço descampado, mas só encontrei cipós, plantas rastejantes, teias de aranha, flores silvestres e receio. Chamaram por um nome que não era o meu, mas respondi. Caminhei em direção das vozes e avistei uma cachoeira. Havia uma festa! Diversas pessoas se banhavam. Deitadas numa pedra com forma de mulher. Acenaram para mim que, do alto do morro, me escondi. Tomei distancia - três metros ou mais - saltei. A queda não tinha fim. A cada metro de aproximação, perdia a respiração. Acordei.
A paz amanheceu e o povo pensou que era feliz
Minha cara estava amassada e meu corpo moído. Passei um café e liguei o rádio. A maioria dos discos estavam riscados, só um deles que não. Com máximo volume, fui até a janela para ver quem passava. O sol lá longe parecia se despedir de mim, o movimento dos carros não era como de costume. Poucas pessoas nas calçadas e os comércios a fechar.
Não havia muita coisa na geladeira, tampouco na dispensa. Minha cesta fora aberta há dias. Sobrou-me uma garrafa de vinho, duas de espumantes e algumas frutas cristalizadas. A solidão bateu em minha porta, sem nome e sem idade. Eu não tinha nada novo pra vestir e o menino Deus já estava por vir. O sonho tornou-se realidade. A queda não tinha fim.
Em um dia quente, o sol ardia à pele e abrasava o asfalto. As pessoas se abanavam com as mãos ou com revistas velhas. Assopravam o colo pela gola, andando pelas sombras dos beirais de cada comércio do centro. Carregavam sacolas, caixas e sorrisos.
Minhas mãos ficaram secas, minha vista e meus lábios grudavam. Os pés cansados e as costas doloridas. O suor escorreu pelo canto de meu rosto, antes que eu sentisse seu sal, o sequei com a manga da camisa.
Cheguei em casa. O ventilador girava e girava, mas ventava pouco. Fazia um barulho estranho. Faltava óleo, sobrava poeira. Na geladeira, a garrafa d’água estava vazia. Porém, havia gelo em uma das formas no congelador.
Tomei um banho frio para congelar minha dor e me sequei com a brisa ambiente. Comi dois pedaços de pão sovado, mas não escovei os dentes. Deitei um pouco, sem pensar em nada.
Instantes depois, coloquei Coralina por cima de mim. Passei pelos primeiros capítulos, até a vista enturvar. Dormi.
Entre o muro e a hera, uma estátua de Primavera
Numa mata fechada, ouvia-se canto de pássaros e uma queda d’água. Procurei por algum espaço descampado, mas só encontrei cipós, plantas rastejantes, teias de aranha, flores silvestres e receio. Chamaram por um nome que não era o meu, mas respondi. Caminhei em direção das vozes e avistei uma cachoeira. Havia uma festa! Diversas pessoas se banhavam. Deitadas numa pedra com forma de mulher. Acenaram para mim que, do alto do morro, me escondi. Tomei distancia - três metros ou mais - saltei. A queda não tinha fim. A cada metro de aproximação, perdia a respiração. Acordei.
A paz amanheceu e o povo pensou que era feliz
Minha cara estava amassada e meu corpo moído. Passei um café e liguei o rádio. A maioria dos discos estavam riscados, só um deles que não. Com máximo volume, fui até a janela para ver quem passava. O sol lá longe parecia se despedir de mim, o movimento dos carros não era como de costume. Poucas pessoas nas calçadas e os comércios a fechar.
Não havia muita coisa na geladeira, tampouco na dispensa. Minha cesta fora aberta há dias. Sobrou-me uma garrafa de vinho, duas de espumantes e algumas frutas cristalizadas. A solidão bateu em minha porta, sem nome e sem idade. Eu não tinha nada novo pra vestir e o menino Deus já estava por vir. O sonho tornou-se realidade. A queda não tinha fim.
16 comentários:
Uma maravilhosa viagem literária. Sem dúvida.
Coloquei Coralina por cima de mim é ótimo!!!! kkkk!!
Só pelo tema: "O chão que prende a casa, a telha que cobre o lar" deu pra ver que o texto vai ser bom, kkkk..
se fosse assim, rss
vou ver e falo o que achei...
Desejo ótima terça!
haha...olha Thiago, eu tenho sim um ciúme absurdo da minha cozinha...mas na verdade tenho ciúme de tudo o que é meu (egoísta né....) e sua mania de não usar medidas, acho que a gente adquire isso com a confiança em nós mesmos...antes eu usava medidas tb, agora só no olhometro!!!
Beijas!!
heheh, deve ter se inspirado nos dias de hoje que tá sempre quente.
Já aconteceu comigo já de ir até a geladeira e não ter nada pra beber, aí eu tive que apelar para o gelo pq a água da sabesp tinha parado também, foi triste.
aí comecei a dar valor para a água de verdade.
E outra vez foi qdo voltava de uma rave, nosss, dou muito valor pra água, pq ela começava a custar já uns 6 reais o copinho..
Ainda bem que o sol despedia de vc, imagine se ele continuasse lá e vc com sede e fome...
Que coisa, se cuide!!
Viajei!
Me deu arrepio também :D
sempre uma delícia te ler, cronista!
Ótima quarta!!
Sou seu top comentarista, sou não? hehe
Abraço
Nossa, você trás ao concreto uma carga de sensibilidade abstrata. Muito inovador . Adorei ter lido o que li.
fala cara
sempre qnd vejo o numero de coments acho que eh tipo 10000 hahah por causa dos zeros ahsuhasuas
entao legal o texto cara...to de volta tbnm la no blog
O dom de escrever não é dado a todos... apenas para aqueles humildes e sensíveis de coração.
Me disseram que hoje é dia da inspiração... não sei bem ao certo, mesmo assim, passo-te um desejo: continue essa pessoa linda de sentidos e continue cultivando este belo blog!
Abraços!
Poetíssima#
Já ouvi algo do tipo...
Mas, nós, mulheres, somos boazinhas.. rsrsrs!
Quero ler mais coisas suas, sabia?!
Muito bom!
=)
... Escreve bem!!!
Abraços!
[lendo-o]
Tiro o chapéu
Sério
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