quarta-feira, 29 de maio de 2013

Alento da queda

De forma involuntária, presumo, confundimos a espera com a busca. Seja na prece ou na pressa, o caminho para a chegada é o que mais assusta, nos causando espanto. Tanto na gestação ou na estação, vivemos na ânsia do aguardo, ora de um trem lotado ou da chegada do ser amado.

Primavera é o clamor a Deus para aliviar nosso fardo.  Pois, estamos - de fato - sempre a espera de algo, quiçá, no ato. Na agonia do fim do mês, das sextas-feiras, dos feriados, da folga facultativa, das horas incertas que nunca terminam, no passo da expectativa do ponto. “Peça paciência, mantenha acesa a esperança”. Todos dizem, em poema ou conto. 

Sim! Também creio que a busca é a guia que nos move. Devemos, claro, contar com a sorte, afinal, só há uma certeza, a morte. É como a alegria do carnaval, que mesmo não tendo um norte, ofusca. Se pinta de esperança, mas, dança conforme a música.

Ano que se passa, o suor do dia lembra sal, cheira terra e nos apresenta a vida em um ciclo que não pára, não espera, vive gritando: “Gente, sou uma esfera”!  Soa como canção, no coral das vozes caladas. Poderia ter um belo refrão, porém, no ápice, o silêncio dispara.

Viver é como prometer com os dedos cruzados. Só quando arde na pele, compreendemos que a ordem das palavras, jogadas em uma frase singela, pode mudar todo o quadro: "mas, eu te amo" ou "eu te amo, mas...", confirmam a tese. Pois, em algum momento a gente esquece ou acorda. Afinal, habitar o equilíbrio, no híbrido, é ser como uma marionete sem corda.

3 comentários:

Heloisa Moraes disse...

"Primavera é o clamor a Deus para aliviar nosso fardo"
Que coisa linda de texto :)

AquilesMarchel disse...

"mas, eu te amo" ou "eu te amo, mas...",

e muda demais


a vírgula também pode ser fatal

Letícia Giraldelli disse...

Estamos de fato sempre na espera de algo e digo que muitas das vezes é mais gostoso o frio na barriga (clichê, porém verdade) na hora da espera do que realmente ficamos após algo concretizar/chegar e afins.

Muito bom, Cara.