terça-feira, 9 de junho de 2009

Depois do fim - Terceiro ato

Pedaço de pamonha

Tudo está pronto. O carro está carregado com os malotes, com as peças novas e o tanque está cheio. Gilberto apanha o endereço com seu chefe, verifica as rodas e o pneu reserva, os freios e o óleo, coloca o terço no retrovisor e confere se o guia está em baixo do banco. Antes de partir, seu chefe lhe deseja boa viagem e lhe dá um envelope com dinheiro, dizendo que uma parte dessa quantia era para o Gilberto comprar uma lembrança para sua esposa grávida e um macacão do Corinthians para seu filho que está chegando. Com a outra parte, pediu a Gilberto que trouxesse algumas garrafadas da mais pura pinga de Minas, para dar a toda chefia da empresa. Ambos caíram na gargalhada e, assim, Gilberto partiu.

O dia estava quente, Gilberto cruzava a cidade para chegar à rodovia. Carros, motos e caminhões, todos fazem parte da orquestra do trânsito, regendo a sinfonia de buzinas, palavrões e motores. Chegando à Dutra, ele resolve ligar o ar e aumentar o som do rádio. Uma canção do Tim Maia o faz lembrar seus pais e de sua infância. Já perceberam como é comum, quando estamos em uma viagem, fazermos reflexões e lembrarmos nosso passado? Creio que é por isso que fazemos analogia entre a morte e uma viagem. Como um filme de toda a vida, que passa diante de nossos olhos quando estamos partindo.

Então... Mantendo a direita, ele avista uma placa para saída a Fernão Dias. Sua viagem começa a passar certa solidão. Parece que se arrepende de ter aceitado está missão. Passa-se algumas horas, o relógio do painel marca cinco e quatorze, mas o locutor da rádio diz que é cinco e vinte e dois. Gilberto está com fome, mas só vê lanchonetes que vendem derivados de milho. Desde criança, Gilberto detesta milho.

Certa vez, quando tinha oito anos ou menos, na casa de sua tia Ana - irmã mais velha de sua mãe - Gilberto comeu escondido um pedaço de pamonha que fora encomendada pela vizinha. De longe, seu tio observava tudo, alcoolizado e enfurecido com o garoto, bateu nele até cansar seus braços gordos. O repúdio foi tanto que Gilberto vomitou todo o almoço, juntamente, com o pedaço de pamonha. Ficou um bom tempo sem comer coisas feitas com milho. Ele não contou pra ninguém e, com isso, foi levado em diversos médicos para saber a causa do menino não sentir mais vontade de comer o que mais gostava. O trauma passou com o tempo, ele come algumas coisas de milho. Porém, até hoje, em outras idas à casa de sua tia, ele fica cismado em comer lá. Mas, pamonha, ele nunca mais quis, sequer, sentir o cheiro.

Voltando a história... O céu escureceu e Gilberto resolveu dar uma parada para tomar um banho, comer algo e, se necessário, dormir um pouco. Mais adiante, ele vê uma parada para caminhões, um enorme restaurante com um pequeno posto de gasolina ao lado. Ele pára, confere para ver se a carga está intacta, trava sua van e vai ao restaurante. No trajeto, ele observa diversas garotas com vinte e poucos anos, algumas com menos, acompanhadas por velhos caminhoneiros, garrafas quebradas, pessoas desconfiadas, saindo de portas escuras, falando baixo e olhando fixamente para todos os lados com a cabeça ao léu. Ele acha estranho aquele lugar, mas como já estava dirigindo por horas, resolveu recarregar as energias fazendo uma parada.

Entrando no restaurante, ele observa algumas pessoas jantando, chão sujo, poeira, teias de aranha acumulada nos ventiladores que não funcionam e uma antiga Junkie Box tocando Jhonny Rivers. Ele pergunta para garçonete se ali era Bom sucesso ou Lavras, ela não fala nada e, somente, pergunta o que ele deseja. Sem graça, ele pede uma Coca em lata bem gelada e um lanche de pernil sem cebola.

Enquanto espera pelo pedido, Gilberto pede um café e caminha até a porta do restaurante para tomar um ar e ver o vai-e-vem da rodovia. Caminhando de um lado para o outro, ele é observado por dois rapazes que estão próximos a um velho Chevette. Ele percebe e acena, com a intenção de se familiarizar. Os rapazes respondem com um sinal de positivo, conversam entre si e caminham em direção de Gilberto.

Eles o cumprimentam e perguntam se é ele que está com a van. Gilberto responde que sim. Os rapazes comentam que perceberam que ele não era dali, que a placa era de Curitiba. Gilberto diz que a empresa é do Paraná, porém ele trabalha na unidade de São Paulo e está indo para Contagem. Sem nenhuma desconfiança, Gilberto conversa com os rapazes. Mas, mal sabe ele das intenções dos dois.

15 comentários:

Anônimo disse...

Caramba cara!

Comecei a ler "Depois do Fim" só agora.
Já fui, numa tacada só, digerindo os três atos.
Confesso que fiquei faminto pelo quarto...

Parabéns!

Airton disse...

opaa
soh li esse ato pq to meio apressado mas dpois confiro os outros hehehhe
da hr
abraçao

SBIE disse...

entao, esse trauma todo só pq o outro bateu nele com seus braços gordos, que é isso! que abuso! Coitado, não come mais milho!

Bem, ele deveria comer... agora que tá longe da família vai precisar se alimentar direito, e dependendo do que servirem pra ele, vai ser bom ele comer!

Muito bom texto!

Flávio Antunes Soares disse...

Muito bom, cara! Continue enquanto a febre não passa.

SBIE disse...

Estou querendo saber as cenas do proximo ato. O cara ai nao sabe o que o espera, rsss

viu..
a sua prop-ganda está muito abaixo, eu tive que procurar muito, seria legal vc colocar um grandão, ou então na parte superior, só um conselho!
Abraço

Bala Salgada disse...

Parou bem na hora que vai começar a esquentar!
Rs...

Eu recebi e-mail daquela ong, que trabalho bonito né. Você continua linkado como fonte daonde vi o vídeo daquela cachorrinha linda, rs...Vamos ajudar os animais, sempre!

Beijão

Ps: som alto logo de manhã, ninguém merece não!

SBIE disse...

O que será que ocasionará com Gilberto nessa empreitada por Contagem-MG! Deixou o filho, a mulher, aquário, rsss, e agora está quase a comer pamonha!

SBIE disse...

Bom feriadão pra vc tb!
Ótimos posts e inspiração!

SBIE disse...

Obrigado!

Reli seu segundo ato... O sinal da cruz foi praticamente a despedida de Gilberto da Família!

Anônimo disse...

ah continua, poxa num sabia que vc era escritor... na hora H vc corta meu barato rsrsrsrs CONTINUAAAA

SBIE disse...

Pra vc ver, agente precisando de um pouqinho de grana, e esses caras queimando. Eles poderiam mandar por sedex pra gente, né,kkkk

Tá muito ffrrrrrrrrio
Ninguém tá acessando meu blog hoje a tarde e a noite!hauauaaha

SBIE disse...

Abração e ótimo fim de semana!!

Como tem ido?

Bala Salgada disse...

Nossa, agora que vi seu Last FM, hip hop lover too? Eu também! Rs...
Nothing but a G thang é ótima!

Beijão!

vicente cortello disse...

quero a continuação logoooo.
fiquei extremamente curioso.

Unknown disse...

Viagens longas são uma mistura de medo, ansiedade, saudade de casa e nervoso.
O se humano te mania de pensar o pior porém querendo que corra tudo bem, é por isso que varias lembranças vem a cabeça em uma viagem.

Bjos, amor.