segunda-feira, 8 de julho de 2013

Quanto mais

Em alguns momentos, aquele famigerado som do silêncio noturno, me faz chegar à beira da loucura. Não sei ao certo se é por perceber, então, o motor da geladeira antiga, cigarras ao longe, na mata virgem que cerca minha vila de nascença (virgem, até a ganância do homem percebe-la e querer enriquecer com seu rico cabaço, fruto raro), um tom em lá que o ar frio da madrugada sopra, semitonando a cada instante, misturado com os veículos acelerados lá fora ou, até mesmo, o apito do vigia que nada vigia, pois, não temos nada pra ser vigiado. Tantos latidos e miados, eu nem tenho bicho algum, só um corpo cansado e, espera, tenho sim, um pássaro velho que, assim como o dono, já não canta com o mesmo fôlego. Enfim, esta louca sinfonia noturna ecoa na véspera do sono, me fazendo dispersar (afinal, desperto é disperso), aflorando a insônia corriqueira e me obrigando a escrever diversas coisas, como essa, por exemplo.

Então, fico na duvida se conseguirei dormir rapidamente. Crio métodos infalíveis que sempre falham, me viro de lá pra cá, coloco minhas mãos por baixo ou em cima do travesseiro, tanto faz, nunca estou totalmente confortável, deve ser pelo colchão já batido, talvez. Me coço, esfrego os pés um no outro, posições diversas com uma só finalidade: Dormir! Como foi o dia anterior? Como consegui? Não me lembro. Na maioria das noites é assim, quase um KamaSutra do sono, inventei esse termo agora, em uma das minhas idas e vindas, de tentar dormir e deixar de escrever idéias soltas, porém, me ajeito novamente na cama, mas, penso um pouco mais e tudo vem a tona, voltando aos rabiscos.

Os ruídos não param nunca! Percebo que essa sintonia fina, que sopra um agudo chiado, não está fora do quarto ou da minha casa, mas, está dentro da minha cabeça, em uma harmônia desarmoniosa. Quanto mais presente é uma coisa, menos notamos sua presença, infelizmente, é assim. Bem, desisto de emanar lamúrias, jogo o bloco de anotações de lado, porém, antes disso, já fui e voltei inúmeras vezes, arremessei pela quarta vez agora, creio. A cada pensamento, sinto a necessidade em anota-los. Acho até que já descobri a cura da AIDS ou uma fórmula química pra converter rapidamente, em segundos, água do mar em água potável, porém, como não as anotei, certo que lembraria no outro dia, acabei esquecendo, claro! Anoto tudo, desde então, sempre que possível, bem verdade.

Enfim, cubro a cabeça, lembro rapidamente do dia que se passou e organizo mentalmente os afazeres do próximo. Assim, bocejo e mal percebo que dormi, parece até que foi tão rápido. Logo, quando me dou conta, já estou sonhando com algo que, provavelmente, esquecerei ao despertar. Esquecer meus sonhos importantes também é outro dilema, não sei porque os considero importantes, uma vez que não lembro deles (está bem, réu confesso, aí está a importância: Esquece-los para não enfrenta-los). É isso, amanhã é outro dia, a noite é outra tormenta. 

8 comentários:

Flávio Antunes Soares disse...

Cara, fazia um tempo que eu não acessava seu blog. Esses últimos textos que você escreveu são muito bons.

disse...

Clap, clap, clap!

Letícia Giraldelli disse...

Adoro texto cômicos e se tem algo que tu faz bem, é desenvolver um texto sem se perder no meio!

E olha lá, Thiago... A noite vem vindo... Bora pro Kamasutra noturno! ;)

Jaci Rocha disse...

"Me coço, esfrego os pés um no outro, posições diversas com uma só finalidade: Dormir!"

Mas a alma do Thiago precisava mais do que repousar, sair de si.

Adorei!!!!!!!!!

Rafaela Gomes Figueiredo disse...

Muito bom teu texto-crônica!
Teu 'humor maligno' é inquietante e, visivelmente, inquieto.
Gostei. Volto sempre q puder; volte sempre q puder.
Obrigada pela gentil visita.

Abrç

Daíse Lima disse...

Amigo, compartilho deste teu mesmo tormento, tantas e tantas noites!!!

Tamara Queiroz disse...

Eu ri. Mas ri baixo para não lhe dispersar mais...

Há noites que gostava de um manual para dormir, porque me sinto exatamente assim como descrito.

Boa madrugada!

Jéssica Simões disse...

Também esqueço sonhos. Eis aí sua "importância": o fato de não conseguirmos controlar tais lembranças. Da uma agonia que fica martelando nossos pensamentos e nos faz pensar que de fato tem alguma relevância.