terça-feira, 24 de março de 2009

Crônicas do absurdo - Morte e vida suburbana.

Esperando o coletivo, me deparei com um mendigo. Ele estava chapado. Encostou do meu lado, meus olhos arregalados, por ele foram encarados.
Estendeu-me a mão, ofereceu-me um trago. Ficamos conversando por horas, não esqueço sua lição. Disse que, cada um de nós, independente da cor, do sexo ou religião, todos sem exceção, temos uma divina missão.
Lembro-me também, de uma de suas teorias. Disse-me que somos o resultado da soma de nossos sentidos.
Somos o que vemos.
Somos o que ouvimos.
O que digerimos.
O que tocamos.
Somos os aromas que sentimos.

Com ar intelectual, sem indagar quem eu sou, repousou sua mão em meu ombro e sorrindo me falou:
- Partindo dessa premissa, podemos traçar o perfil psicossocial de alguém. Basta analisar, pode reparar. Com raízes, ao quadrado, não importa! Pode crer, meu bom rapaz. Some tudo que faz com seus sentidos e o resultado será você.

Curioso, perguntou-me:
- Que livro é este em suas mãos? Quais são os filmes que assiste? As canções que ouve, quais são? Das conversas que participa, quais os assuntos falados? Ou então, prefere ficar calado?
O que passa entre seus dedos? Somente, dinheiro? Ou prefere os cabelos de sua amada? Seu tato é de fino trato?
Cheiras o quê? Perfumes doces? Poluição? O aroma instigante de uma boa refeição?
Tem gosto refinado para beber? Pode ser suco, água, vinho, tanto faz. O que convém a você?

Ele se levantou e, como um pai, me disse:
- Olhe filho, avalie as coisas boas da vida. Pondere todos os seus sentidos. Pois, com este pensamento e intenção, pode ter certeza, você encontrará um sentido, uma eterna devoção.

E, antes que eu falasse qualquer coisa, ele foi embora. Bem ali, na minha frente. Ele partiu e não voltou.

10 comentários:

Anônimo disse...

Não sei se o seu caso é verídico (acho que não é), mas, há um tempo, passei por algo parecido (ou não).
Estava eu saindo da rádio.
Naquele dia vestia minha camiseta do Nirvana.
Um senhor, que levava alguns papelões num carrinho daqueles de levar papelão, me perguntou:
-Você atingiu o Nirvana?
Eu respondi brincando:
-Física e espiritualmente...
Ele se apresentou - Roberto era seu nome - e fomos conversando desde a rádio até a estação de trem, caminho que dura, mais ou menos, uns 15 minutos.
Ele me falou sobre literatura, cinema, música, etc...
Roberto era um artista.

Pessoas que marcam minúsculos momentos de nossas vidas...

Minduim. disse...

Não sei se o seu caso é verídico (acho que não é), mas, há um tempo, passei por algo parecido (ou não).²

Estava conversando com um amigo no bar, e ele chegou com seu carrinho de papelão.
fez questão que pagar a Bebida, e começamos a conversar.
Esse era um tanto ignorante e arrogante em suas palavras, e era agradável de conversar.
Falou, falou, falou, ficamos umas 2 horas conversando e no final se despediu falando.
- "A única coisa que levamos dessa vida é areia na cara" (...) "Não sou mais nem menos que você, sou igual..."

Foda. Pessoas são assim pq não tiveram chances e/ou condições de demonstrar suas capacidades.
Abraço

disse...

Ei Thiago! Seu blog nos traz sempre uma surpresa. Surpresa boa é claro!

Gostaria de parabenizá-lo pelo vídeo, realmente muito bom!

bjs

SBIE disse...

Que experiência hein!!!
Queria ter um mendigo que me ensinasse coisas assim,rss
Vc já me passou pelo post um pouquinho.

Estou preparando um post sobre seu blog! Amanhã ou ainda hoje já esteje lá!

Abraço

Beat disse...

Valeu pela visita aos meus Versos Etílicos cara, também curti muito seu blog.

Quem lhe indicou ele?

Abç!

Mari disse...

Eita rapaz...como me encontrou?!
obrigada pela visita...! Espero que continue...pois vou visitar o seu com frequencia...ótimos textos!

Thiago da Hora disse...

É uma coisa que sempre digo: somos tudo que vemos, lemos, ouvimos e sentimos. Sempre me senti assim.

Greta disse...

Uma vez um mendigo me disse:
"Os generais levaram meu filho. te espero garota, te amo tá?!
Isso foi engraçado por que ele tinha entre os dedos um punhado de bosta de cavalo."
PErfeito seu texto.

SBIE disse...

Que bom que gostou!!
Que Nossa parceria virtual se torne cada vez mais real!

Carol Betella disse...

Podemos nos surpreender com a experiência que pessoas sofridas podem nos passar. São o retrato de tudo, pois já passaram por tudo. Já que não se tem mais nada, muitas vezes nem mesmo a esperança, passam sua história de vida pra frente ajudando outros, ensinando-lhes para que não cometam os mesmo erros.